27 setembro 2006

Machuca - 2ª parte

Tudo muito piegas isso, né? E eu odeio pieguice. Também não gosto de dar esmola. Acho desagradável. Não por mesquinharia, é ruim ver as pessoas meio que se humilhando. E não resolve o problema. Nenhum problema.

O que resolve? É difícil mesmo. Mas estamos falando de sociedade, do modelo de sociedade que temos, certo? Certo.

E aí, o queremos? Eu quero que as pessoas não passem fome, não passem frio, que envelheçam com dignidade.

E aí é sempre aquilo de “cada um tem que fazer a sua parte”. É. Mas qual é a parte de cada um, além de repetir a frase e fazer uma boa ação de vez em quando?

O momento em que somos obrigados a isso é quando votamos.

Argh! Política?!” É.

Eu sempre votei pensando “no outro”. Sou de classe média, sempre estudei em escola particular, não ando de ônibus, não uso o SUS ou postos de saúde, não ganho bolsa-família, não tenho parentes nos CEUs, meu lazer não depende de eventos públicos. Etc, etc. Mas eu voto em quem investe nessas coisas.

Porque é só isso que transforma a sociedade.

A coisa que eu mais escuto nesses dias além das bobagens “mensalão” e “dossiê” (que as pessoas repetem daquela revistinha veja e nem se preocupam em saber o que é direito) são coisas como “o Lula ganha porque compra o povo com o bolsa-família” ou “tem que parar de dar o peixe e ensinar a pescar”. Quem diz isso, normalmente, são pessoas que nunca votaram no Lula ou no PT.

Acho curioso. Parece que o País só existe há 4 anos. Por que essa gente toda que quer voltar ao Poder não “ensinou a pescar” durante todo o tempo de governo anterior?

Porque eles não estão preocupados em “ensinar a pescar” porcaria nenhuma. A preocupação sempre foi manter o poder, o status, o padrão de vida. Me refiro a “eles” e a quem vota neles.

É muito fácil e gostoso ser niilista, dizer que nada presta, que “eles” são todos farinha do mesmo saco. É mais fácil e mais gostoso. Porque aí eu não preciso ter trabalho, não preciso tomar posição, não preciso me comprometer. E aí é só botar a culpa “neles”, pela cidade tão violenta, pela vida tão amarga, pelo mundo tão ruim. Isso é desonesto.

Ao contrário dos niilistas mais “eruditos” (hahah) que gostam de dizer que não há mais esquerda e direita, eu digo que há sim. Embora o quadro partidário no Brasil possa ser um tanto caótico, é possível identificar pessoas e propostas comprometidas com um lado ou com outro.

É claro que dá trabalho saber quem é quem, dá trabalho separar o que é “inevitável e temos de tolerar” e aquilo que é “execrável e temos de afastar”. Mas é trabalho nosso, necessário e importante.

Quero programas sociais sim, às favas com esse papo-furado de “dar o peixe, ensinar a pescar”. Porque o país tem muita gente pobre. Tem muitas velhinhas passando frio, fome e vergonha.

E chega.





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