Adorava um grafite, feito de caneta vermelha e porosa, escrito nos banheiros da Folha de S.Paulo toda vida que o ouvidor da mesma entrava em merecido recesso: “Senhores jornalistas, podem cagar à vontade, o ombudsman está de férias”. Um clássico da história da imprensa da gloriosa Barão de Limeira, desde Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman dessa terra.
Aproveito a descarga barulhenta, de cordinha, das antigas, para fazer uma provocação rápida: a imprensa da paulicéia, que cobriu excepcionalmente bem os escândalos do PT, e deveria ter coberto melhor e mais apuradamente ainda, só revelou duas, três coisas que sabemos sobre o Geraldinho Alckmin: o caso da Nossa Caixa, o mensalinho paulista, graças a uma excelente reportagem isolada de Frederico Vasconcelos… E a fofoca, igualmente escandalosa, dos vestidos da primeira-dama… E, creio, ficamos só mesmo nessas duas coisas, nem nas três chegamos, uma vez que o noticiário do PCC dificilmente levava o rótulo do PSDB ou garrafais com nomes dos supostos responsáveis. Era difuso, até com alguma razão, pois a violência, desde Caim e Abel, é de difícil cobertura, como provam as versões imparciais da Bíblia, né?.
Reparem bem, para evitar mal-entendidos, principalmente nesta semana passionalíssima e final: não é que a imprensa tenha sido injusta com os petistas. Nada disso. É que ela não investigou os tucanos, deixou os tais a flanar e cantar de galos udenistas, foi uma cobertura em cima de uma nota só, como no samba de João Gilberto.
Lembro, só para citar a mesma gloriosa Folha, já que não é tradição do centenário Estadão mostrar os podres do poder ligado a São Paulo [não valem citar as campanhas fora de época contra Quércia e Maluf!], de como o mesmo jornal ia à fundo em coberturas passadas na vida de todos os candidatos. Não haviam inimputáveis. Se que bem que o Serra sempre foi meio intocável, mais por afinidades eletivas, ou fisiologia do gosto mesmo, do que por proteção de fato… Sobrava denúncia até para Francisco Rossi, na época prefeito de Osasco… Tinha para todos. Os daqui e os de fora. O matutino também não ficava apenas à reboque de denúnicias da PF ou de CPIs. Se Alckmin foi governo por três mandatos em São Paulo, merecia uma radiografia apuradíssima do que fez e do que não fez, não acham?
Recordar é viver: Collor ganhou a eleição, mas antes os leitores souberam, graças a uma bela matéria de Elvira Lobato, ainda durante a campanha, do acordo com os usineiros para financiá-lo. E era paulada para todo lado. Um gol de placa, jornalismo de verdade, independentemente de lambanças internas dos partidos, como agora o vergonhoso dossiê do PT ou conclusões de comissões parlamentares de investigações. Essas comissões, em tempos de eleições, não deixam de ser aparelhadas, aparelhadíssimas, vão saltando nomes para queimar gente qual a velha inquisição queimava bruxas!
Cada vez mais à reboque da Polícia Federal e das CPIs, faltou investigação da imprensa em SP nestas eleições. Uma rápida justiça seja feita: José Alberto Bombig, na Folha, andou a falar das 69 CPIs represadas contra o tucanismo e explicar o que se passava na área. Pena que nenhum pauteiro (os caras que além de acordar muito cedo e ganhar pouco têm que negociar com quem manda o que vai sair mesmo nos jornais) tenha conseguido emplacar a sequência de tal cobertura. As 69 CPIs são assunto proibido. Para completar, a Assembléia Legislativa é um antro sem importância, tudo ficou voltado para Brasília. Para cada 70 repórteres e duzentos blogueiros investigando um só candidato, havia meio foca no Palácio dos Bandeirantes, lugar onde também desempenhei, orgulhosamente, na chegada a SP , a vaga de meio-foca, nem meio, acho. Mas é do jogo. Nem é má vontade, só falta de jornalismo equilibrado, que mostre a podreira de todos os candidatos. Ou, o que também é lindo, que os donos de jornais mirem-se no exemplo americano, e declarem o voto em seus preferidos. Fica tudo mais honesto e não dão razão a neguinho ficar chiando, como torcedor reclamando do pênalti escandaloso do domingo!
Publicado por Xico Sá
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