29 setembro 2006

28 setembro 2006

GEORGE LUCAS: QUEM ESTÁ BEM NA FITA

28/09/2006 09:50h
Paulo Henrique Amorim


A tentativa da oposição de atrapalhar a reeleição do Presidente Lula com o uso que membros do PT pretendiam dar a informações da família Vedoin sobre irregularidades na compra de ambulâncias no Governo Fernando Henrique Cardoso foi "O Retorno de Jedi" -- a tentativa do PSDB de voltar ao poder.

A Polícia Federal já abriu inquérito para apurar as relações do empresário Abel Pereira com Barjas Negri, Ministro da Saúde no Governo Fernando Henrique Cardoso, e daí, pode chegar a José Serra, seu antecessor no cargo. É o que pode ser "O império contra-ataca".

Essa imagem eu ouvi de um alto funcionário do Ministério da Justiça, na manhã deste quinta feira, dia 27, fã de George Lucas. E tem o objetivo de enfatizar que a Polícia Federal se considera "bem na fita", em todo esse episódio.

A Polícia Federal se prepara para ouvir Hamilton Lacerda, o assessor de Aloísio Mercadante, que aparece na fita como quem entregou o dinheiro.

A Justiça deferiu todos os pedidos da Polícia Federal para quebrar o sigilo bancário e telefônico dos envolvidos.

A Polícia Federal identificou metade dos dólares que entraram na operação. E essa metade identificada entrou legalmente no país.

Falta saber como entrou a outra metade.

É preciso descobrir ainda se o dinheiro, em reais, é um dinheiro de origem limpa, se veio de "caixa dois" de campanha, ou se saiu dos cofres públicos.

Se veio de origem limpa, tudo bem. Como disse o Ministro da Justiça, comprar dossiê não é crime.

Se veio de cofres públicos entra no enredo do "Retorno do Jedi".

Se não veio, entra em "O Império contra-ataca".

A Polícia Federal está muito orgulhosa do fato de não ter permitido que esse episódio fosse usado de forma ostensivamente eleitoral, como no episódio "Lunus", em que a PF, do Governo Fernando Henrique, participou de uma operação para desmanchar a candidatura de Roseana Sarney* a Presidente da República, o que, naquele momento, só beneficiava o candidato José Serra.

Do episódio Lunus, quem reaparece na fita é o Procurador Mário Lucio Avelar.

Que talvez não seja mais contratado para trabalhar com George Lucas.

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/392001-392500/392021/392021_1.html

27 setembro 2006

O Misterioso Abel

Leitura obrigatória:
> O Misterioso Abel
> A pressão de Abel aos Vedoin
> Serra e os vampiros: inquérito mostra como quadrilha agiu livremente na gestão Serra
> O que ainda falta investigar sobre as compras de ambulâncias
> Jorge Hage: "Serra deve ter o mesmo tratamento que usaram para incriminar Humberto Costa"
> Por dentro da reportagem

Machuca - 1ª parte

Ontem aconteceu algo que me machucou um pouco. Talvez seja lugar comum isso, mas está atravessado na minha garganta.

Após o almoço, fui ao Carrefour. Em um corredor, enquanto olhava uns pães ouvi me chamarem: “moço”. Era uma senhora. Antes de ver quem era, enquanto eu ainda me virava, ela começou a falar. Era um pedido. Não houve tempo para que ela terminasse a frase. Minha reação foi imediata, automática: “sinto muito, não posso”, algo assim. Ela ainda disse um “obrigado” meio constrangido e saiu. E aí eu entendi o que tinha acontecido. Alguém pediu minha ajuda e eu neguei rapidamente. Porque não tenho condições, ganho pouco, tenho dívidas, minhas contas não fecham no final do mês. E porque mais de uma vez já ajudei pedintes que claramente me enganaram (percebi depois). E a primeira vez que fui assaltado, a pessoa se aproximou pedindo ajuda. E porque vivo numa cidade violenta, num mundo violento, e já aprendi que não dá para marcar bobeira.

Não consegui voltar aos pães. Fiquei com aquilo na cabeça. Achei que tinha me tornado frio demais. Não fui ríspido nem rude, mas automático. E a senhora, a velhinha já tinha ido, mas seus olhinhos ainda me fitavam. Minha garganta brigou comigo. De repente me bateu outra vergonha: e se não fosse dinheiro? E se ela estivesse pedindo ajuda para pegar algo numa prateleira, ou procurasse saber em qual corredor estava o molho de tomete? E se fosse um trocadinho mesmo, eu precisaria tê-la dispensado tão rapidamente?

Notei-a em outro corredor. Levava um saco de feijão e um pacote de leite. Saquei a carteira. Tinha uma nota de dez e uma de dois. Caramba! Dez é muito, dois é pouco. Não dava para ter uma de cinco naquele momento? Tirei a nota de dois (só dois, que mesquinho!) e coloquei no bolso. Observei-a, tentei me aproximar. Queria ajudá-la agora, mas me bateu a dúvida mesmo, se era dinheiro que ela queria. Que besteira, era dinheiro, claro coitada. Mas agora havia gente por perto, ao contrário do momento em que ela me abordou. Não queria constrangê-la oferecendo dinheiro na frente dos outros. Travei. Não fui.

Segui para o caixa, paguei o pão. Parei na saída do mercado. Resolvi esperar ela sair. Pensando na situação meio absurda, me distraí e quase a perdi. Ela saiu, passos rápidos e curtos. No frio absurdo daquele dia, ela usava chinelo de dedo, sem meias. Uma saia comprida, a blusinha de lã fininha, de abotoar. O cabelo branco, aparência de sujo.

- Senhora!

Não ouviu. Segui-a, chamei novamente. Ela se virou, eu já estendi a mão com o dinheiro. Eu balbuciei alguma coisa do tipo “é o que eu posso”, meio sem jeito, baixinho. E ela, com seus olhinhos apertados, agradeceu imediatamente com palavras e um sorriso. E seguiu seu caminho.

Fui para o carro um pouco aliviado, sentido menos vergonha.

[ Abre a porta, senta, dá a partida. Segura o choro. É dela ou é de você mesmo que está sentindo pena? ]

Velhinha. Frágil. Com frio. Pobre.

Pensei em velhinhas que conheço. Não estava certo aquilo. Por que deixamos isso acontecer, por que temos velhinhas passando frio e pedindo um trocado para comprar comida? Por que deixamos velhos, adultos, jovens e crianças, de ambos os sexos, passando fome?

Ajudei pelo menos. Ajudei? Ou tentei expiar minha culpa?




Machuca - 2ª parte

Tudo muito piegas isso, né? E eu odeio pieguice. Também não gosto de dar esmola. Acho desagradável. Não por mesquinharia, é ruim ver as pessoas meio que se humilhando. E não resolve o problema. Nenhum problema.

O que resolve? É difícil mesmo. Mas estamos falando de sociedade, do modelo de sociedade que temos, certo? Certo.

E aí, o queremos? Eu quero que as pessoas não passem fome, não passem frio, que envelheçam com dignidade.

E aí é sempre aquilo de “cada um tem que fazer a sua parte”. É. Mas qual é a parte de cada um, além de repetir a frase e fazer uma boa ação de vez em quando?

O momento em que somos obrigados a isso é quando votamos.

Argh! Política?!” É.

Eu sempre votei pensando “no outro”. Sou de classe média, sempre estudei em escola particular, não ando de ônibus, não uso o SUS ou postos de saúde, não ganho bolsa-família, não tenho parentes nos CEUs, meu lazer não depende de eventos públicos. Etc, etc. Mas eu voto em quem investe nessas coisas.

Porque é só isso que transforma a sociedade.

A coisa que eu mais escuto nesses dias além das bobagens “mensalão” e “dossiê” (que as pessoas repetem daquela revistinha veja e nem se preocupam em saber o que é direito) são coisas como “o Lula ganha porque compra o povo com o bolsa-família” ou “tem que parar de dar o peixe e ensinar a pescar”. Quem diz isso, normalmente, são pessoas que nunca votaram no Lula ou no PT.

Acho curioso. Parece que o País só existe há 4 anos. Por que essa gente toda que quer voltar ao Poder não “ensinou a pescar” durante todo o tempo de governo anterior?

Porque eles não estão preocupados em “ensinar a pescar” porcaria nenhuma. A preocupação sempre foi manter o poder, o status, o padrão de vida. Me refiro a “eles” e a quem vota neles.

É muito fácil e gostoso ser niilista, dizer que nada presta, que “eles” são todos farinha do mesmo saco. É mais fácil e mais gostoso. Porque aí eu não preciso ter trabalho, não preciso tomar posição, não preciso me comprometer. E aí é só botar a culpa “neles”, pela cidade tão violenta, pela vida tão amarga, pelo mundo tão ruim. Isso é desonesto.

Ao contrário dos niilistas mais “eruditos” (hahah) que gostam de dizer que não há mais esquerda e direita, eu digo que há sim. Embora o quadro partidário no Brasil possa ser um tanto caótico, é possível identificar pessoas e propostas comprometidas com um lado ou com outro.

É claro que dá trabalho saber quem é quem, dá trabalho separar o que é “inevitável e temos de tolerar” e aquilo que é “execrável e temos de afastar”. Mas é trabalho nosso, necessário e importante.

Quero programas sociais sim, às favas com esse papo-furado de “dar o peixe, ensinar a pescar”. Porque o país tem muita gente pobre. Tem muitas velhinhas passando frio, fome e vergonha.

E chega.





Se der “empate”, o TSE elege Alckmin

Paulo Henrique Amorim

Se a eleição “empatar” no primeiro ou no segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral derrotará o Presidente Lula.

O que significa uma eleição “empatar” ?

É uma eleição em que a diferença entre o primeiro e o segundo turno (e/ou do segundo para o terceiro, no caso do primeiro turno) é inferior a um ponto percentual.

E quando surgem dúvidas sobre a qualidade dos votos .

Foi o que aconteceu na Florida, em 2000, na primeira eleição do Presidente Bush.

Foi o que aconteceu na recente eleição para presidente do México.

Por que o TSE dará a vitória a Alckmin ?

Porque a urna eletrônica no Brasil é inconfiável. Qualquer vitória por uma diferença inferior a um ponto percentual pode ir para o tapetão.

Por que a eleição com a urna eletrônica brasileira é inconfiável ?

Porque ela não pode ser conferida.

Por que não pode haver conferência dos votos ?

Porque não há comprovante físico do voto do eleitor. Sem o comprovante físico, como recontar uma eleição ? Como apurar se o resultado que aparece no computador confere com o desejo do eleitor ?

A ONU se recusou a levar o voto eletrônico, como o do Brasil, para qualquer país que tenha começado a realizar eleição.

A comissão bipartidária dos Estados Unidos, formada depois do escândalo da eleição de 2000, sob a liderança de Jimmy Carter e James Baker, recusou essa urna eletrônica sem comprovante físico (sem “the paper track”).

A edição deste domingo (24 de setembro) do New York Times na web mostra que, nos Estados Unidos, muitas pessoas estão apavoradas com a perspectiva de a urna eletrônica ser adotada nas próximas eleições de novembro. (clique aqui para ler a matéria do New York Times)

Aqui no Brasil, todas as tentativas de convencer o Tribunal Superior Eleitoral de que a urna eletrônica brasileira é um convite à fraude (o voto depende do que o programador do software quiser) resultaram inúteis.

Sobre o assunto, vale a pena ir ao site http://www.votoseguro.org/.

Um cenário possível é o seguinte:

A diferença é pequena.

Um partido diz que houve fraude.

Dá-se a confusão.

A mídia, especialmente a impressa, apóia Alckmin.

A decisão vai, em última instância, para o Tribunal Superior Eleitoral.

E o presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, já demonstrou que prefere Alckmin a Lula.

Como me disse hoje, na manhã chuvosa de São Paulo, na mesa ao lado da padaria do Oliveira, um entusiasmado leitor da Veja:

“O Marco Aurélio é a nossa última trincheira”.

Paulo Henrique Amorim, site Conversa Afiada.

O DOSSIÊ SERRA E O DOSSIÊ DANTAS

De todo o episódio recente envolvendo o tal dossiê sobre o Serra, a entrevista dada pelos Vedoin à Revista IstoÉ, a prisão de pessoas ligadas ao PT que aparentemente comprariam um vídeo e fotos relacionando o tucano ao caso dos sanguessugas, a cobertura da imprensa que se seguiu ao caso, o comportamento da Polícia Federal, do ministro Márcio Thomaz Bastos, do presidente Lula etc, o que mais chama a atenção em tudo isso é como a memória recente de todos parece estar apagada. Não sei se por medo, por simples esquecimento ou pela proximidade da eleição, o fato é que um episódio idêntico, ocorrido em maio, deve tratamento totalmente diverso, por parte de todos os personagens. No centro do episódio esquecido está Daniel Dantas.

Recordando: no dia 14 de maio a revista Veja publicou uma matéria "bombástica" sobre supostas contas de Lula, Márcio Thomaz Bastos, Paulo Lacerda (diretor geral da Polícia Federal), Antônio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken no exterior. Ah, sim, Romeu Tuma também estava no bolo. A revista Veja revelou que recebera o dossiê sobre o caso de Daniel Dantas (em uma pérola do jornalismo investigativo, a revista admite que não conseguiu comprovar a autenticidade dos documentos, mas decidiu publicá-los mesmo assim). Dantas foi entrevistado, na mesma edição, por Diogo Mainardi. Acusou o governo, disse que foi extorquido (coisa que havia negado à CPMI dos Correios e do Mensalão). A entrevista, aliás, se encaixava em um contexto: na mesma época, o senador Arthur Virgílio abastecia a imprensa com um depoimento dado pela irmã de Daniel Dantas, Verônica, à Justiça de Nova York, dizendo ter sofrido achaque por parte do PT. Dantas desmentiu ter passado qualquer informação para Veja, mas uma semana depois a revista reafirmou que recebeu o dossiê de Dantas. Ficou por isso mesmo.

Lula reagiu ao dossiê e às denúncias da Veja. Declarou-se indignado. Thomaz Bastos também. Lacerda, da Polícia Federal, mandou investigar o caso. Na imprensa, a cobertura foi tímida. Ninguém criticou a Veja, ninguém acusou a revista de ter sido comprada. Poucos a condenaram por ter publicado a história sem comprová-la.

Mas os absurdos não acabaram por aí. Márcio Thomaz Bastos, o ministro "difamado", aceitou se encontrar com Daniel Dantas, o semeador do dossiê segundo a própria Veja, na casa do senador Heráclito Fortes (PFL do Piauí). O ministro da Justiça foi ao encontro do banqueiro acompanhado dos parlamentares Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo! Dantas disse que foi pedir desculpas, dizer que nada tinha a ver com o caso do dossiê sobre as supostas contas de Lula, Bastos e cia. Disse que tudo foi uma invenção da Veja. Bastos tentou esconder o encontro. Só o admitiu depois que a própria Veja revelou a manobra. Oficialmente, o ministro disse que leu as desculpas de Dantas, mas não lhe deu nenhuma garantia. O caso, afirmou MTB, estava nas mãos da Polícia Federal.
O caso do dossiê das supostas contas no exterior de Lula esfriou rapidamente, como tudo que envolve Daniel Dantas. A PF não disse mais nada sobre como andam as investigações. A imprensa também não cobrou. Até a convocação de Dantas para ir à CPI dos Bingos prestar esclarecimentos foi abortada, inclusive com o apoio do senador Arthur Virgílio e da base do governo.
Qual a semelhança entre o caso daquele dossiê, plantado bem no começo da campanha e o atual dossiê sobre Serra, que tanta dor de cabeça tem causado ao governo e a Lula?

Antes é preciso responder a uma pergunta: em maio, Dantas agia apenas em defesa de seus interesses, sem nenhuma preocupação eleitoral, ou sua manobra, plantando um dossiê contra Lula, tinha algum objetivo político?

Difícil dizer. Fato é que o PFL é seu partido no Congresso. ACM é seu amigo, não é preciso entrar em detalhes. Heráclito Fortes é amigo de seu sócio e ex-cunhado Carlos Rodemburgo. O senador do PFL do Piauí voou nos aviões da Brasil Telecom quando Dantas mandava na empresa (ele mesmo admitiu isso à Carta Capital e ao O Globo). Foram não duas nem três vezes, mas "uns 10% de um total de 58 viagens", segundo Heráclito Fortes. Os jatinhos da Brasil Telecom fizeram, então, 58 viagens de Brasília para o Piauí, onde, sabe-se, a Brasil Telecom não tem clientes nem atividades comerciais. O senador do PFL de Santa Catarina Jorge Bornhausen também andou nos jatinhos de Dantas, como ele mesmo admitiu. E ainda conseguiu que "populares" de Santa Catarina entrassem com ações na Justiça quando Daniel Dantas foi demitido pelos fundos de pensão e pelo Citibank do conjunto de empresas cuja administração coube a ele após as privatizações do governo FHC. Ou seja, Bornhausen ajudou Dantas a se defender. E as vinculações entre o PFL e Dantas não param por aí. O deputado do PFL do Distrito Federal, Alberto Fraga, defende interesses junto ao Tribunal de Contas da União que são, não por acaso, exatamente os interesses de Dantas. São representações no TCU sobre temas complexos como um tal de "acordo de put" e contra o "acordo umbrella". Temas tão complexos que nem o deputado sabe explicar direito. Mesmo assim, suas representações estão lá, servindo aos interesses do Opportunity.

Isso para não citar o esforço da tropa pefelista para que Dantas se livrasse do relatório final da CPMI dos Correios, onde acabou apontado como um dos abastecedores do mensalão.

Questões familiares são sempre evitadas em eleições. Mas não se pode deixar de lembrar que Verônica Dantas, irmã e preposta de Daniel Dantas em diversas operações, foi sócia da filha de José Serra, Verônica Serra, na Decidir.com. Isso está documentado, conforme já mostrou a Carta Capital. Serra e o PSDB tiveram como tesoureiro em campanhas passadas Ricardo Sérgio de Oliveira, aquele do "limite da irresponsabilidade", o homem que, como diretor do Banco do Brasil (veja que o aparelhamento não é algo exatamente novo no BB), conseguiu cartas de garantia para Dantas participar do leilão da Telebrás. Foi ele também o homem que conseguiu convencer a Previ a dar um cheque em branco para Dantas administrar seus investimentos na época da privatização das teles.
O PFL e o PSDB, enfim, são umbilicalmente ligados a Dantas e, portanto, o dossiê plantado por Dantas contra Lula poderia, muito bem, atender aos interesses dos dois maiores partidos da oposição.

Comparando as semelhanças entre o dossiê de maio, sobre as contas de Lula e petistas, e o dossiê de setembro, sobre Serra, notam-se semelhanças. A primeira é o fato de os dossiês visarem atingir alguém no centro do processo eleitoral, o que é tão grave agora quanto foi em maio. Em maio, houve uma matéria em uma revista de grande circulação nacional, assim como agora. Mudaram apenas as publicações. Em maio, o semeador do dossiê era uma pessoa com nítidas vinculações partidárias. Agora são petistas de carteirinha, com circulação no governo e proximidade de Lula. Não dá para dizer que Dantas tenha operador por conta própria, assim como é possível supor que o comando da campanha de Lula tenha sabido do dossiê contra Serra.

Mas as semelhanças param por aí. Lula condenou o recente dossiê contra Serra, disse que a atitude é "abominável" e lembrou inclusive já ter sido vítima desse tipo de manobra em outras eleições. Mas, curiosamente, não disse que foi vítima de um dossiê nessa eleição, em maio. Por que razão? Thomaz Bastos também criticou a existência do dossiê contra Serra. Mas, assim como Lula, não lembrou do dossiê que Dantas plantou na Veja em maio. Aliás, nem Thomaz Bastos, nem nenhum jornal, blog ou colunista lembraram do episódio.
Pode-se dizer que o dossiê das contas de Lula era uma clara montagem, que sequer merecia menção. Mas e daí? Mais uma razão para investigar. Além do absurdo em si da divulgação de um dossiê, ainda há a falsificação de informações para prejudicar alguém (o que, aliás, parece não ter acontecido nesse dossiê contra Serra).

O mais surpreendente é que, lá atrás, Thomaz Bastos aceitou o pedido de desculpas de Dantas, foi até a casa de Heráclito Fortes conversar com o semeador de dossiês, acompanhado de dois importantes petistas. Ficou por isso mesmo.

Será que dá para imaginar Valdebran Padilha, Gedimar Passos, Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, o tal do Freud Godoy ou mesmo o Ricardo Berzoini pedindo para ter um encontro com José Serra na casa, digamos, da senadora Ideli Salvatti, para pedir desculpas e dizer que nada têm a ver com o dossiê? E será que Serra, na remota hipótese de aceitar o convite, levaria consigo dois importantes parlamentares de seu partido, digamos, o deputado Alberto Goldman e o senador Arthur Virgílio? Pouco provável, e olhe que Serra é só um candidato, não é ministro da Justiça.

Já a Polícia Federal, que eficientemente abortou a "operação tabajara" do dossiê contra Serra, está andando rápido com as investigações. Todos os envolvidos já foram ouvidos em depoimento. O Ministério Público do Mato Grosso pressiona. Tudo tem que estar resolvido até o dia 1º de outubro, sob pena de que o Brasil eleja um presidente que "pode estar envolvido" em um caso de armação de um dossiê. Mas onde estão a mesma Polícia Federal e o mesmo Ministério Público para investigar se: 1) o dossiê de Dantas era verdadeiro ou não e; 2) para investigar a serviço de quem estava Dantas quando plantou o dossiê na Veja, em maio? Lula e Thomaz Bastos deveriam também esbravejar, mas não o fazem.

No caso do dossiê de Dantas, também parece que há uma investigação em curso, andando bem lentamente, assim como as outras investigações na PF contra o banqueiro (Caso Kroll, privatização da Telebrás etc). Mesmo assim, ninguém sabe nada sobre o que se passa. A imprensa nunca mais tratou do caso, nem o governo parece dar muita bola. Alguém se lembra quando foi e o que disse Dantas em algum depoimento à Polícia Federal sobre o dossiê das contas? Eu não.

A comparação dos dois episódios mostra ou que a oposição e a imprensa têm memória curta, ou que o governo continua tendo medo de Dantas, ou ambos. O banqueiro já mandou espionar gente do governo, criou inúmeros problemas para os fundos de pensão (públicos), denunciou ter sido achacado pelo PT depois de ter dito à CPI que nada sabia (os Vedoin também negaram o envolvimento de Serra no caso das ambulâncias, depois mudaram a versão para a IstoÉ), plantou dossiê contra o presidente da República, o diretor da Polícia Federal, o ministro da Justiça, e mesmo assim recebe tratamento, no mínimo, carinhoso do governo. Qual o medo? Dantas seria um Toninho da Barcelona de luxo, e poderia falar algo sobre contas de políticos no exterior? Dantas seria um novo Marcos Valério, e poderia falar algo sobre as fontes do mensalão? E a mídia, por que só fala de um dossiê e nem lembra de citar Dantas? Ele é tão plantador de dossiês como o Freud, o Valdebran ou qualquer outro petista envolvido no caso atual, certo? Dantas, por acaso, é apenas um empresário polêmico, sem vínculos partidários? Enfim, pelo visto, ninguém quer mexer com Dantas.

Por Samuel Possebon, repórter da Teletime.
(Publicado no site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.)

Imprensa paulista preserva a fauna tucana

Adorava um grafite, feito de caneta vermelha e porosa, escrito nos banheiros da Folha de S.Paulo toda vida que o ouvidor da mesma entrava em merecido recesso: “Senhores jornalistas, podem cagar à vontade, o ombudsman está de férias”. Um clássico da história da imprensa da gloriosa Barão de Limeira, desde Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman dessa terra.

Aproveito a descarga barulhenta, de cordinha, das antigas, para fazer uma provocação rápida: a imprensa da paulicéia, que cobriu excepcionalmente bem os escândalos do PT, e deveria ter coberto melhor e mais apuradamente ainda, só revelou duas, três coisas que sabemos sobre o Geraldinho Alckmin: o caso da Nossa Caixa, o mensalinho paulista, graças a uma excelente reportagem isolada de Frederico Vasconcelos… E a fofoca, igualmente escandalosa, dos vestidos da primeira-dama… E, creio, ficamos só mesmo nessas duas coisas, nem nas três chegamos, uma vez que o noticiário do PCC dificilmente levava o rótulo do PSDB ou garrafais com nomes dos supostos responsáveis. Era difuso, até com alguma razão, pois a violência, desde Caim e Abel, é de difícil cobertura, como provam as versões imparciais da Bíblia, né?.

Reparem bem, para evitar mal-entendidos, principalmente nesta semana passionalíssima e final: não é que a imprensa tenha sido injusta com os petistas. Nada disso. É que ela não investigou os tucanos, deixou os tais a flanar e cantar de galos udenistas, foi uma cobertura em cima de uma nota só, como no samba de João Gilberto.

Lembro, só para citar a mesma gloriosa Folha, já que não é tradição do centenário Estadão mostrar os podres do poder ligado a São Paulo [não valem citar as campanhas fora de época contra Quércia e Maluf!], de como o mesmo jornal ia à fundo em coberturas passadas na vida de todos os candidatos. Não haviam inimputáveis. Se que bem que o Serra sempre foi meio intocável, mais por afinidades eletivas, ou fisiologia do gosto mesmo, do que por proteção de fato… Sobrava denúncia até para Francisco Rossi, na época prefeito de Osasco… Tinha para todos. Os daqui e os de fora. O matutino também não ficava apenas à reboque de denúnicias da PF ou de CPIs. Se Alckmin foi governo por três mandatos em São Paulo, merecia uma radiografia apuradíssima do que fez e do que não fez, não acham?

Recordar é viver: Collor ganhou a eleição, mas antes os leitores souberam, graças a uma bela matéria de Elvira Lobato, ainda durante a campanha, do acordo com os usineiros para financiá-lo. E era paulada para todo lado. Um gol de placa, jornalismo de verdade, independentemente de lambanças internas dos partidos, como agora o vergonhoso dossiê do PT ou conclusões de comissões parlamentares de investigações. Essas comissões, em tempos de eleições, não deixam de ser aparelhadas, aparelhadíssimas, vão saltando nomes para queimar gente qual a velha inquisição queimava bruxas!

Cada vez mais à reboque da Polícia Federal e das CPIs, faltou investigação da imprensa em SP nestas eleições. Uma rápida justiça seja feita: José Alberto Bombig, na Folha, andou a falar das 69 CPIs represadas contra o tucanismo e explicar o que se passava na área. Pena que nenhum pauteiro (os caras que além de acordar muito cedo e ganhar pouco têm que negociar com quem manda o que vai sair mesmo nos jornais) tenha conseguido emplacar a sequência de tal cobertura. As 69 CPIs são assunto proibido. Para completar, a Assembléia Legislativa é um antro sem importância, tudo ficou voltado para Brasília. Para cada 70 repórteres e duzentos blogueiros investigando um só candidato, havia meio foca no Palácio dos Bandeirantes, lugar onde também desempenhei, orgulhosamente, na chegada a SP , a vaga de meio-foca, nem meio, acho. Mas é do jogo. Nem é má vontade, só falta de jornalismo equilibrado, que mostre a podreira de todos os candidatos. Ou, o que também é lindo, que os donos de jornais mirem-se no exemplo americano, e declarem o voto em seus preferidos. Fica tudo mais honesto e não dão razão a neguinho ficar chiando, como torcedor reclamando do pênalti escandaloso do domingo!

Publicado por Xico Sá

26 setembro 2006

Uma eleição de Internet

Mercadante (PT) não fala do tema, depois da lambança de alguns petistas, mas Quércia (PMDB), na linha “um crime não pode abafar o outro”, resolveu irritar mesmo os tucanos paulistas: cobra de Serra, teimosamente, explicações sobre o suposto envolvimento com os sanguessugas. No interior, alguns dos seus cabos eleitorais começaram a usar sirenes de ambulância nos carros de propaganda para tentar lembrar a máfia que agia no Congresso, Ministério da Saúde e prefeituras. Mesmo assim, com dossiê e tudo, não há o menor cheiro de eleição por aqui. Nem mesmo nas velhas barbearias do Sumarezinho e da Lapa, redutos clássicos de fofocas políticas, se ouve um pio sobre quaisquer candidatos. Parece que esse ano a eleição pegou fogo somente na blogosfera. O resto é silêncio e saco cheio do assunto.

Publicado por Xico Sá

25 setembro 2006

Oportunismo

Do Imprensa Marrom.
http://imprensamarrom.com.br/?p=522

QUAL A PESQUISA MAIS RECENTE?

Sabem da última? Talvez não saibam. Ou então tenham, por última, aquela que talvez seja a penúltima. Confuso,
né? Mas é o seguinte…

O Datafolha realizou pesquisa para apurar as intenções de voto a Presidente da República. Essa pesquisa foi
logo divulgada. O Ibope, a pedido do Estadão, também realizou tal levantamento. Mas só foi divulgado hoje (na
Internet, está desde ontem), por conta da edição dominical do periódico.

Muitos ‘analistas’ (ah, esses analistas…) tratam a pesquisa do Ibope como sendo a última, porque de fato foi a
última a ser DIVULGADA. Mas adivinhem o que aconteceu?

O Ibope foi a campo de 20 a 22 de setembro, e ouviu 2002 eleitores em 141 municípios. O Datafolha foi a campo
somente no dia 22, e ouviu 4319 eleitores em 210 municípios.

Além de mais abrangente e e mais recente, a pesquisa do Datafolha foi divulgada ANTES. Mas obviamente seus
números não refletem um quadro anterior àquele demonstrado pelo Ibope, que apenas divulgou depois, mas foi a
campo antes.

Claro, pesquisas podem sempre dar errado. Não temos dúvidas. Mas é curioso como elas vêm sendo aplaudidas
exatamente por aquele povinho que, até ontem, desprezava tais levantamentos.

De todo modo, usando ou não para fins eleitorais, é bom ter um pouco de justiça com os números e com a lógica.
A pesquisa do Datafolha é mais recente e muito mais abrangente (ouviu mais do que o dobro de eleitores em bem
mais municípios).

Bola de Neve x Bomba
Os ‘escândalos políticos’ podem ser divididos em duas categorias. Há aqueles que se transformam em bolas de
neve, causando com o tempo efeitos cada vez mais devastadores; e há os que ‘explodem’, mas logo o povo muda de
assunto. O mensalão, que muitos pensaram ser da primeira categoria, acabou sendo um bafafá restrito à mídia.
Não teve força para causar grade estrago eleitoral.

O caso do dossiê parece que segue o mesmo caminho. A pesquisa do Datafolha, feita depois da do Ibope (embora
divulgada antes), talvez sinalize que a oscilação ficou restrita aos dias de maior repercussão, com os
telejornais divulgando pesado. Agora, tudo voltou mais ou menos ao normal. E os índices eleitorais se assentam
nas posições de antes.

Senão pelos números, também pelo fato de que esse escândalo não é como o anterior; ou seja, não atinge apenas
uma das trincheiras (embora o valerioduto, bem sabemos, também envolva o PSDB). O caso do dossiê é
’suprapartidário’.

O PT é acusado de ter comprado a papelada, o PSDB é acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. É
claro que não há um único perdedor nessa história.

Na hipótese de se tornar uma bola de neve (coisa de que duvido), tal episódio pode arrastar consigo não somente
um partido, mas praticamente todos os envolvidos (ainda que parcela considerável da imprensa prefira não usar a
eqüidade ao tratar do tema).

“Veja” e o Dossiê ‘Falso’
Sabe-se lá com que fundamento, a “Veja” se apressou em chamar o dossiê de ‘falso’. Talvez eles tenham feito um
trabalho pericial nas duas mil páginas que compõem o documento. Vai saber…

Mas, agora, foi revelado que as acusações envolvem vários partidos, não somente o PSDB. Sobra até para o PT.

Será que a “Veja” manterá a opinião de que o dossiê é ‘falso’? Ou dirá que pelo menos a parte anti-pestista é
verdadeira? A ver.

Espinafrado por Gravatai Merengue

24 setembro 2006

PF e MP, que ouvem depoimento de Vedoin, apuram armadilha do empresário contra o PT

por Mino Pedrosa

Quando sentar esta tarde, em Cuiabá, diante do procurador da República Mário Lúcio Avelar e do delegado federal Diógenes Curado Filho, que conduzem as investigações contra a Máfia das Sanguessugas e que tentam apurar a origem e o destino do dossiê contra o ex-ministro da Saúde José Serra, o empresário Luiz Antônio Vedoin será confrontado com degravações de escutas telefônicas e com transações financeiras que o ligam diretamente ao empreiteiro paulista Abel Pereira. O depoimento de Vedoin está marcado para se iniciar às 14h30min locais, 15h30min em Brasília.

O encontro entre Luiz Antônio Vedoin, homem que confessou ser corruptor de parlamentares e prefeitos e que pagava propinas para ver inscritas no Orçamento e depois liberadas pelo Governo Federal emendas destinadas a fazer com que órgãos públicos lhe comprassem ambulâncias, será constrangedor para o empresário e para uma ninhada de políticos tucanos. As conversas entre Abel Pereira e Vedoin são antigas, mas se intensificaram antes do primeiro depoimento de Luiz Antônio Vedoin e de Darci Vedoin aos procuradores da República, no Mato Grosso, e aos integrantes da CPI das Sanguessugas. Isso remonta ao início do escândalo em curso, há cerca de quatro meses. Nesses depoimentos, os Vedoins driblavam perguntas que se referiam aos ex-ministros José Serra e Barjas Negri, titulares da pasta da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, e chegaram mesmo a assegurar que os tucanos e o empresário Abel Pereira eram "corretos". Isso se deu durante o depoimento aos parlamentares da CPI.

Policiais federais e procuradores da República têm em mãos pagamentos cruzados entre Abel Pereira e os Vedoins. Pereira é dono da empreiteira Cicat, de Piracicaba, cidade do interior paulista administrada pelo hoje prefeito Barjas Negri. Na entrevista que concedeu à revista Istoé, na semana passada, e que também é objeto de investigação, Luiz Antonio Vedoin implicou Pereira no caso dizendo que, durante as gestões de Serra e de Negri no Ministério da Saúde, o empreiteiro piracicabano ficava com 10% do valor das liberações orçamentárias destinadas a emendas que tinham por objetivo financiar a compra de ambulâncias em municípios. Nas gestões de Serra e Negri foram entregues mais de 70% das ambulâncias fornecidas pela Planam, empresa de Vedoin, aos municípios brasileiros.

As ligações e os encontros recentes entre Luiz Antônio e Darci Vedoin e o empreiteiro Abel Pereira tornam-se relevantes para Polícia Federal e para o Ministério Público porque sustentam aquela que é a viga-mestra das investigações sobre o dossiê contra José Serra. O QuidNovi relata a seguir os passos dessas investigações e ressalta que essa é a tese central do que está sendo apurado. A ser verdade, o que emergirá desse submundo é péssimo tanto para o PT, que já tem sua participação comprovada no episódio restando apenas ser revelado o nome do pagador do dossiê pelas bandas petistas, quanto para o PSDB, que pode ter mergulhado tão fundo quanto os adversários eleitorais no submundo do crime e dos papelórios:

1. Ao começarem a surgir as primeiras investigações e notícias contra a Planam e os Vedoins, Abel Pereira procurou os amigos empresários no Mato Grosso para assegurar que nem seu nome nem o de seus amigos -- leia-se, tucanos em geral e Serra e Negri em particular -- não seriam declinados nos depoimentos. As "relações comerciais e financeiras" recentes entre eles podem ter sido motivadas por isso?

2. Os Vedoins teriam cumprido o acordo? A PF e o MP crêem que sim, pois as denúncias foram seletivas em relação a parlamentares e a ex-ministros do PSDB. Eles não denunciaram nada ligado às gestões tucanas na Saúde nos depoimentos judiciais e, apertados pelos petistas na CPI, negaram-nas. A partir daí, as denúncias oriundas das sanguessugas passaram a causar muito estrago no Congresso, em geral, e em candidaturas petistas, em particular.

3. Expedito Veloso, diretor do Banco do Brasil que estava licenciado para trabalhar na campanha reeleitoral de Lula e foi demitido ontem, teria vasculhado registros bancários dos Vedoins e da Planam -- ilegalmente -- e teria organizado um calhamaço de provas que revelariam ligações financeiras entre as empresas dos sanguessugas e o empreiteiro piracicabano Abel Pereira. Hoje, 21 de setembro, o repórter Ugo Braga, do jornal Correio Braziliense, revela a existência de um cheque comprometedor vinculando Abel e Luiz Antônio. Com esse papelório nas mãos, Veloso teria procurado os Vedoins e proposto uma entrevista fechando o elo entre a máfia e o PSDB. Apresentado às evidências de que haveria como se provar suas ligações com o PSDB, os Vedoins aceitaram dar a entrevista "pautada" pelos petistas mas teriam pedido dinheiro para isso. O PT teria aceitado pagar e teria acertado que colocaria a entrevista em uma revista. A idéia era usar a Época e, agregada a ela, a Rede Globo -- daí a necessidade de reunir DVDs com imagens. Um repórter de Época foi então procurado por Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti. Luiz Antônio Vedoin, que já havia sido colocado sob suspeição de "jogo duplo" pela revista, recusou-se a dar entrevista para a publicação da Editora Globo. Foi então que Hamilton Lacerda procurou a revista Istoé pessoalmente. Ele, que era até ontem coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, foi à redação da Editora Três em São Paulo e se reuniu com o redator-chefe Mário Simas Filho e mais três editores. Lacerda sugeriu a pauta e propôs-se a ser o contato entre os Vedoins e a revista. Ao chegar a Cuiabá, Simas Filho foi apresentado a Oswaldo Bargas. Bargas, Expedito Veloso e o advogado Otto Medeiros acompanharam a entrevista de Istoé com Luiz Antônio e Darci Vedoin. Os petistas gravaram a entrevista.

4. Depois de mandar o texto para a sede da publicação em São Paulo, Simas Filho regressou à capital paulista em um vôo com escala em Brasília. Bargas e Expedito desceram em Brasília. Àquele momento, a PF já havia prendido Paulo Roberto Trevisan, tio de Luiz Antonio Vedoin, e se dirigia a um hotel em São Paulo para prender Gidemar Passos Valdebran Nascimento. Trevisan tinha em mãos DVDs e fotos de Alckmin, Serra e Negri em entregas oficiais de ambulâncias da Planam. Ia a São Paulo entregá-las a Gidemar e receber o montante acertado com o PT. A PF, quando recebeu a denúncia da presença dos petistas Gidemar e Valdebran no hotel em São Paulo recebeu-a completa: local, apartamento e valor de recursos. que estavam lá Por isso a ação foi tão rápida. E é isso que procuradores e policiais querem saber hoje à tarde: Luiz Antonio Vedoin, ele mesmo, teria sido o responsável por fazer o esquema petista cair tão rápido? Em caso positivo, por que? Os telefonemas e contatos trocados entre ele e Abel Pereira seriam o motivo dessa celeridade?

Essas são as questões que PF e MP querem responder, hoje à tarde, com Luiz Antônio Vedoin. O empresário, que é corrupto confesso, está em maus lençóis na Produradoria da República e na Polícia Federal, que crêem terem sido passadas para trás no acordo de delação premiada com os Vedoins. Caso exista, de fato, um elo entre o PSDB e as denúncias seletivas e os silêncios oportunistas dos Vedoins, isso não tira a relevância da descoberta que pode ser letal para o PT: de quem era o dinheiro que pagaria, em nome do partido do presidente, o dossiê? Mas, responder a essa pergunta, não pode tirar o foco da apuração sobre o conteúdo do sossiê. Ele é falso ou verdadeiro?

Petistas caíram feito patinhos em armação de Serra, diz Ciro Gomes

O ex-ministro também acusou "a política provinciana de São Paulo" de mais uma vez tumultuar o País

21 de setembro de 2006 - 17:30
Carmen Pompeu

Publicado no Estadão: http://www.estadao.com.br/ultimas/nacional/eleicoes2006/noticias/2006/set/21/243.htm

FORTALEZA - O ex-ministro da Integração Nacional e atual candidato a deputado federal pelo PSB, Ciro Gomes, classificou de "armação tucana", na qual "petistas caíram feito patinhos", o escândalo da compra de dossiê contra o candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB). "Trata-se de uma grande armação ao estilo José Serra e os petistas caíram feito patinhos em uma armadilha montada pelos tucanos", disse Ciro Gomes. Ele também acusou "a política provinciana de São Paulo" de mais uma vez tumultuar o País.

Para Ciro Gomes, os petistas acusados de negociar a compra do dossiê são "aprendizes de mafiosos". Ele se mostrou preocupado com a possibilidade de o escândalo vir a abalar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas ponderou afirmando que a população brasileira saberá discernir quem estaria interessado nessas denúncias. "Não é o Lula, que está em primeiro nas pesquisas, mas sim quem está embaixo", provocou o ex-ministro de Lula.

Ciro concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira na sede de seu comitê de campanha em Fortaleza. Ele se defendeu de acusações feitas contra ele pelo candidato ao governo do Ceará, Zé Maria Melo (PL). De acordo com candidato, Ciro, quando ministro, teria privilegiado Sobral, a 233 quilômetros de Fortaleza, no repasse de verbas. A cidade na época era administrada pelo irmão de Ciro, Cid Gomes, que disputa o governo cearense pelo PSB com o apoio de Lula. Segundo Ciro, Zé Maria fez falsas acusações com "manipulação grosseira de documentos".

Operação arriscada

Brasília, sexta-feira, 22 de setembro de 2006
Ugo Braga

Da equipe do Correio

Publicado no Correio Brasiliense:
http://www2.correioweb.com.br/cbonline/politica/pri_pol_257.htm?

Petistas iniciaram uma operação de bastidor lançando dúvidas sobre a isenção do procurador Mário Lúcio Avelar, responsável pela investigação contra os sanguessugas e também do dossiê contra os tucanos. A idéia que eles tentam difundir é a de que Avelar manipulou Luiz Antônio Vedoin levando-o a uma arapuca armada para capturar assessores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por trás de tudo, estaria antiga relação do procurador com o tucano José Serra.

Para dar vazão à estratégia, os petistas dispararam telefonemas a algumas pessoas-chaves chamando a atenção para uma entrevista concedida por Mário Lúcio à jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo, em março de 2002. Era uma época turbulenta. Poucos dias antes, a PF realizara uma ação na Lunus Consultoria, em São Luís, onde achou R$ 1,3 milhão. A empresa pertencia a Jorge Murad, marido da então pré-candidata do PFL à Presidência, Roseana Sarney. Fotos da bolada apareceram na TV. Roseana não explicou de onde veio o dinheiro e teve que se retirar da corrida presidencial.

Os dias seguintes foram marcados pelo rompimento do PFL com o PSDB e por um bate-boca entre o então diretor-geral da PF Agílio Monteiro e Mário Lúcio. Um acusava o outro de ter vazado as fotos do dinheiro. Questionado pela jornalista da Folha, Avelar respondeu: “Gente, querem dizer que isso é do Serra? Então escreve: sou o procurador do Serra”. Na época, ele chefiava o MP no Tocantins.

Teoria da conspiração

Além desse fato, petistas propuseram, em conversas discretas, um silogismo, segundo eles, comprometedor contra Mário Lúcio. Lembraram que Vedoin fechou há poucos meses acordo de delação premiada com o MP, abençoado pela Justiça do Mato Grosso. Assim, não dava um passo sem conhecimento prévio de Avelar. “Vedoin sabia que estava grampeado e falou tudo por celular!”, espanta-se um influente parlamentar do PT. Armada a arapuca, argumenta, os “patos” caíram.

A trama contra Avelar contém pontos falhos. Há, de fato, um elo entre o procurador e José Serra. Este elo atende pelo nome de José Roberto Santoro. É subprocurador-geral licenciado e montou um bunker dentro do Ministério da Saúde na época que Serra chefiava a pasta. Santoro é uma espécie de mentor para grupo de procuradores, no qual figura Mário Lúcio. O ponto é: se é mesmo ligado a Serra, por que Avelar manipularia Vedoin, levando-o a montar um dossiê que incrimina o tucano?

Empresário ligado a tucano tentou falar com Vedoin no dia da venda do dossiê

22/09/2006 - 09h15
HUDSON CORRÊA da Agência Folha, em Cuiabá
LEONARDO SOUZA enviado especial da Folha de S.Paulo a Cuiabá

O empresário de Piracicaba Abel Pereira, ligado ao ex-ministro e braço direito de José Serra na Saúde Barjas Negri, esteve em Cuiabá no fim do mês passado e ligou três vezes para falar com Luiz Antonio Vedoin no dia em que o chefe da máfia das ambulâncias fechou a venda do dossiê contra o PSDB, de acordo com interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal e informações obtidas pela reportagem.


Na segunda quinzena de agosto, Abel se hospedou no hotel Taiamã, em Cuiabá. No último dia 14, ele ligou três vezes para Robson, ex-cunhado de Vedoin, que confirmou à Folha ter recebido as ligações mas pediu para não ter o sobrenome publicado.

Segundo Robson, era perceptível que Abel estava ansioso e preocupado por não conseguir falar com Vedoin.

De acordo com Robson, Abel fazia perguntas vagas sobre uma determinada "questão", não explicando exatamente do que se tratava. Robson disse não tinha como ajudá-lo, pois não sabia nada do assunto.

Após a segunda ligação, Robson ligou para Vedoin, passando o telefone de Abel. Ele disse que não queria se envolver no caso, mas que ficou preocupado com a insistência de Abel.

O telefonema de Robson para Vedoin foi registrado pela PF às 11h15 do dia 14. Nessa conversa, o dono da Planam pediu a Robson que, se Abel telefonasse de novo, dissesse que ele estava viajando.

No final da tarde do mesmo dia, às 17h41, Vedoin ligou para Robson, para saber se Abel o havia procurado novamente. Robson disse que sim, mas que havia "quebrado o galho" de Vedoin, tendo dito que ele estava viajando, como combinado.

Robson diz que Abel ligou para sua loja porque não estava conseguindo falar com Vedoin. Abel teria o telefone de sua loja porque o dono da Planam havia ligado dias antes para ele de lá.

Abel Pereira foi acusado por Vedoin de ser o responsável por liberar as emendas no Ministério da Saúde, na gestão de Barjas Negri, que interessavam à quadrilha. Negri foi secretário-executivo da pasta quando Serra esteve à frente do ministério e o substituiu em 2002. Abel é empresário de Piracicaba (SP), cidade da qual Negri é prefeito.

No mesmo dia em que Abel procurou por Vedoin, o empresário da Planam fechou a venda de um dossiê com vídeos e fotos de Serra entregando ambulâncias compradas das empresas da quadrilha dos sanguessugas.



E a parte interessante da notícia seguinte (Vedoin isenta Serra, mas acusa sucessor):

Mas Vedoin incrimina o empresário Abel Pereira "dizendo que ele recebeu valores para liberação de recursos pendentes na gestão de Barjas Negri [substituto de Serra em 2002] no Ministério da Saúde".

Vedoin afirma ainda que "Abel é ligado a Barjas". Abel, em viagem, foi procurado pela reportagem. Seu funcionário anotou o recado, mas Abel não ligou de volta. Barjas, prefeito de Piracicaba (SP), nega ligação com os sanguessugas.

Vedoin disse ainda que quatro folhas de papel, encontradas dentro do dossiê contra tucanos, eram a relação de prefeituras, de emendas ao Orçamento e da porcentagem de propina referentes a acertos com Abel na compra de ambulâncias. Ele entregou à PF documentos que comprometeriam Abel.

Vedoin afirma que "não fez negócio com a revista "IstoÉ" para dar entrevistas em troca de pagamento". Disse que receberia só R$ 1 milhão pelo material sobre tucanos, cujo destino disse ignorar, e negou conhecer a negociação com dólares.

Outro lado

Li o que segue no blog da coluna "Toda Mídia" (Uol/Folha) escrito pelo Nelson de Sá. A partir dele fui atrás de outras notícias, que vou postar a seguir (logo acima).

Este outro lado da crise do dossiê está no ar, ao menos na Folha Online, em reportagens com títulos como "Vedoin isenta Serra, mas acusa sucessor" e "Empresário ligado a tucano tentou falar com Vedoin no dia da venda do dossiê".

O que aconteceu "no dia da venda do dossiê" é assunto também de uma reportagem anterior no site QuidNovi, destacada hoje por Tereza Cruvinel em "O Globo" (requer cadastro). No título do texto de Mino Pedrosa, descrito pela colunista como repórter "de vastas conexões com o mundo das investigações e da arapongagem":

Polícia Federal e Ministério Público apuram armadilha do empresário contra o PT.

Minhas perguntas

Por que os tais petistas iriam pagar toda aquela grana por um dossiê furado?
Qual era a intenção dos Vedoins?
Embora não mude a falta de ética da atitude dos petistas que foram tentar comprar o dossiê, isso não tem uma cara escancarada de armação, haja vista Lula até então estar praticamente eleito (só um fato novo mudaria o quadro)?
Quem é o tal Abel Pereira (empresário ligado aos tucanos), o que ele fez e a serviço de quem?

Dimenstein = Dispensável

Sempre li o Gilberto Dimenstein com reservas. Hoje eu tive a certeza (definitiva) que ele não merece crédito. É nojenta e absolutamente despropositada a "entrevista" com a sonegadora, contrabandista e dona da Daslu, Eliana Tranchesi. Não entendo como pode ser notícia o fato dessa sujeita ter problemas de saúde. Ele deixa ela falar à vontade que foi perseguida e ainda insinuar que isso teria causado um câncer (!). Ele ainda pergunta "como as ações policiais e da Receita afetaram os negócios", como se a ação do poder público tivesse sido nociva. Lamentável. Dispensável.

14 setembro 2006

"Não detesto nenhum partido, exceto o seu"

O texto a seguir é da Soninha, e foi publicado em seu blog.


Não detesto nenhum partido, exceto o seu

“Eu não voto em partido, voto na pessoa”. Quantas vezes você já ouviu ou disse isso? Dadas as fronteiras muito borradas entre partidos no Brasil, a inconsistência e o desconjuntamento das agremiações, as alianças sem nenhuma lógica ideológica, a profusão de siglas ridiculamente oportunistas, como criticar os eleitores por se prender mais à avaliação da pessoa física do que da legenda a que ela pertence? Como comparar, por exemplo, José Serra e Havanir Nimitz, ex-Prona, atual tucana? Roberto Freire, Blairo Maggi e Miriam Athiê, vereadora pelo PPS em São Paulo?


“Eu não voto em partido, voto na pessoa. Mas não voto em você porque você é do PT, e eu nunca mais voto em ninguém do PT”.


Bom, aí a coisa muda de figura... Quando se trata do PT, aí vale a legenda, vale o julgamento em bloco, vale a idéia de partido. Negativamente, naturalmente. Faz sentido?


Essa conversa aconteceu no sábado de manhã. Não me contive: “Quer dizer que o único partido que você condena em bloco, de ponta a ponta, é o PT?”. “É, essa roubalheira...”. “Nos outros partidos nunca teve roubalheira?”. Outra pessoa interveio: “Colocaram um monte de gente do partido sem qualificação técnica para ocupar cargos técnicos”... “Eu acho isso uma merda, mas é só o PT que faz isso?”. “Mas eu votei no PT pra fazer diferente dos outros, e chega lá e faz igual? Nunca mais!”. “Eu também acho que não devia ter feito nada do que condena nos outros; não é desculpa para fazer igual. Não concordo, não perdôo, vou sempre brigar para que não seja assim. Mas os outros, os tais que sempre fizeram o que o PT sempre disse que não ia fazer, não vão ser condenados também?”.


A pessoa que me interpelou – acho que não tem por que não falar quem era; a Hortência – vai votar no Alckmin. Normal, normalíssimo, não estava tentando convencê-la a votar no Lula. Mas se ela votou no Lula porque queria que o PT fosse diferente “dos outros”, esses “outros” não incluíam o PSDB? Então ela quis se ver livre do PSDB, mas já perdoou. Vota em alguns tucanos, ainda que não goste de todos. Mas em petista nenhum, nunca mais?


“Se os tucanos fizeram alguma coisa de errado, também não voto mais neles!”. Então, ela está dizendo que os tucanos nunca fizeram nada de errado?


Além de “quadrilha”, o qualificativo mais recente, uma das maiores “acusações” feitas ao PT sempre foi o de ser “monopolista da ética”. Agora, parece deter o monopólio da falta de ética. Os petistas são anti-éticos. Todos. Os outros, não. Nenhum. Tá lá a propaganda do PSDB e do PFL, um frevo super animado: “Que decepção/ Pra essa gente/ Meu voto eu não dou não/ Diga não à bandalheira: vote nos candidatos a deputado do PSDB/PFL”. Quer dizer, o PT é “essa gente” (melhor que “essa raça”, como disse o outro um tempo atrás). E o PSDB (e o PFL!) são imunes, excluídos, isentos de “bandalheira”. Ah, sim, devem ter adquirido o monopólio sobre a ética, e serem os atuais detentores da perfeição. Ainda vão ser acusados de formação de cartel...


“Não voto em partido, voto na pessoa. Mas não voto em ninguém do PT”. Antes de ir embora, Hortência ainda me disse: “Sai do PT, que eu voto em você”. Bom, assim que eu encontrar um partido que não tenha pilantras, bandidos, coronéis, cartórios e currais, eu mudo pra lá.

(Talvez o PSOL, ainda muito novinho, não tenha. Mas deixa crescer um pouco mais... É inevitável; você precisa ter um controle muito rígido para detectar logo e punir desvios de conduta. É óbvio que o PT falhou miseravelmente nisso... É óbvio, também, que outros não se importam a mínima com esse controle. E não são cobrados. Como já disse antes, cadê alguém encostar o Quércia na parede para perguntar “o que o PMDB vai fazer em relação aos seus deputados sanguessugas?”. Independentemente da infiltração da pilantragem oportunista, que ainda pode ocorrer, o PSOL me lembra o começo do PT, no que ele tinha de bom e de ruim... De bom: convicção, inconformismo, energia, mobilização de base, ideal. De ruim: uma certa arrogância (vocês são todos péssimos, nós temos a solução!), uma facilidade para criticar que não corresponde à dureza de administrar um país. Já pensou, querer aprovar qualquer coisa no Congresso que provavelmente teremos, tendo como base aliada apenas o PCdoB e o PSTU? Não dá!). Ainda sobre esse ponto: uma das críticas mais contundentes que se pode fazer ao PT é justamente sobre a “política de alianças”. Do extremo “não nos aliamos a ninguém” – lembra quando a Erundina tomou um couro por fazer parte do governo Itamar? – passamos ao “salve-se quem puder”. Aceitamos o apoio do Maluf para derrotar o PSDB... E eles (tucanos) fazem a mesma coisa (vão de ACM numa boa). Deprimente).

11 setembro 2006

11/9



Um comentário de Marilena Chauí.
Para pensar.

As diferenças próprias do espaço percebido (perto, longe, alto, baixo, grande, pequeno) são apagadas: o aparelho de rádio e a tela da televisão tornam-se o único espaço real. As distâncias e as proximidades, as diferenças geográficas e territoriais são ignoradas, de tal modo que algo acontecido na China, Índia, Estados Unidos ou Campina Grande apareça igualmente próximo e igualmente distante. É assim, por exemplo, que os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 na cidade de Nova York (quando foram destruídas as duas torres do Centro Mundial de Comércio, ou World Trade Center) foram sentidas com grande emoção no Brasil, tendo algumas pessoas se referido ao fato como se fosse algo muito ´próximo e que as atingia, embora continuassem olhando calmamente e sem nenhuma emoção para crianças esfarrapadas e famintas pedindo esmolas nas esquinas das ruas de suas cidades.


Em tempo: copiei (tudo) do blog do Marcelo Coelho.
Filme do dia: Fahrenheit 9/11.

07 setembro 2006

Introdução do Hino Nacional

Curiosidades

A música do Hino Nacional do Brasil foi composta em 1822, por Francisco Manuel da Silva, para comemorar a Independência do país. Essa música tornou-se bastante popular durante os anos seguintes, e recebeu duas letras. A primeira letra foi produzida quando Dom Pedro I abdicou do trono, e a segunda na época da coroação de Dom Pedro II. Ambas versões, entretanto, caíram no esquecimento.

Após a Proclamação da República em 1889, um concurso foi realizado para escolher um novo Hino Nacional. A música vencedora, entretanto, foi hostilizada pelo público e pelo próprio Marechal Deodoro da Fonseca. Esta composição ("Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós!...") seria oficializada como Hino da Proclamação da República do Brasil, e a música original, de Francisco Manuel da Silva, continuou como hino oficial. Somente em 1906 foi realizado um novo concurso para a escolha da melhor letra que se adaptasse ao hino, e o poema declarado vencedor foi o de Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909, que foi oficializado por Decreto do Presidente Epitácio Pessoa em 1922 e permanece até hoje.

Diferente do que muitas pessoas pensam, é considerado errado bater palmas após a execução do hino nacional, por ser tido como desrespeito. Uma vez que o Hino Nacional representa o próprio povo (por ser ele, junto com a bandeira e o brasão das armas nacionais, um dos três símbolos máximos da nação), parece descortês aplaudi-lo, pois isso soa como se as pessoas estivessem aplaudindo a si mesmas.
Eu acho isso uma bobagem. O lance de aplaudir é isso mesmo, estamos aplaudindo a nós, povo brasileiro. Acho bacana.

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O hino nacional brasileiro possuia, embora pouco conhecida, uma letra para a introdução que atualmente é só instrumental.
Para quem (assim como eu) desconhece, a palavra "SUS" é uma interjeição motivadora que vem do latim e que significa: eia!, coragem!, ânimo!; suspender, elevar. Neste caso, deve significar "avante, em frente".

Letra atribuída a Américo de Moura

Espera o Brasil
Que todos cumprai
Com o vosso dever.
Eia avante, brasileiros,
Sempre avante!

Gravai com buril
Nos pátrios anais
Do vosso poder.
Eia avante, brasileiros,
Sempre avante!

Servi o Brasil
Sem esmorecer,
Com ânimo audaz
Cumpri o dever,
Na guerra e na paz

À sombra da lei,
À brisa gentil
O lábaro erguei
Do belo Brasil.
Eia sus, oh sus!


fonte: Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hino_Nacional_Brasileiro


update: