20 dezembro 2006

Carta de Despedida de Rodrigo Vianna


LEALDADE

Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.

Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim - bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.

Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".

Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.

Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.

Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem!

Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".

Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.

Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.

Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?"

Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?

Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?

Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!

Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.

Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.

Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...).

O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.!

Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!

Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?

E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.

E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...

E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, porque não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa - as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder.

Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!

Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?

Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?

O JN levou um furo, foi isso?

Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "CartaCapital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era.

Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?

Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.

E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!

Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!

Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...

De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...

A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos!

Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?

Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.

Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?

Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.

Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.

Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições.

Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo:

"(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".

Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil.

E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".

Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou.

Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!

João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno:

"Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando".

Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!

Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo.

Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.

Mas, isso tudo tem pouca importância.

Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente?

Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?

Depois, não sabem porque os protestantes crescem...

Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!

Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental.

Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.

Foram quase doze anos de Globo.

Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.

Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação.

Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...

Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo.

Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós - nas ruas, no Metrô, na padaria.

Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.

Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.

Mas, há as pessoas. Essas valem a pena.

Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...

1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.

2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades.

Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo.

Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais.

Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários!

Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais.

Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).

Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui.

Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.

Um beijo a todos.

Rodrigo Vianna.


Publicado na Terra Magazine.

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1309377-EI6584,00.html

18 dezembro 2006

22 de dezembro: Dia do Orgasmo Global Sincronizado pela paz

Deu no Terra.

Dia 22 de dezembro, pessoas no mundo inteiro devem se dedicar a concentrar "energia positiva" para mudar o planeta. E como farão isso? Simples: praticando sexo. A campanha é promovida pelo site www.globalorgasm.org, e propõe que todos se fixem em pensamento de paz durante e depois do orgasmo (e quanto mais, melhor). O objetivo é tentar frear as energias de violência, agressão e guerras sobre o planeta.

Na convocação para o evento, o motivo citado pelo site é: "causar mudanças positivas no campo de energia da Terra por meio do orgasmo global sincronizado. Há mais duas frotas norte-americanas indo em direção ao Golfo Pérsico com equipamento a ser usado contra o Irã, portanto, a hora de mudar a energia da Terra é AGORA!".

A convocação é dirigida a todos os homens e mulheres do planeta, em todos os países (mas principalmente naqueles que dispõem de armas de destruição em massa). A data é 22 de dezembro, no lugar e hora em que as pessoas desejarem.

The Event

WHO? All Men and Women, you and everyone
you know.

WHERE? Everywhere in the world, but especially in countries with weapons of mass destruction.

WHEN?
Winter Solstice Day - Friday, December 22nd,
at the time of your choosing, in the place of your choosing and with as much privacy as you choose.

WHY? To effect positive change in the energy field of the Earth through input of the largest possible surge of human energy a Synchronized Global Orgasm. There are two more US fleets heading for the Persian Gulf with anti-submarine equipment that can only be for use against Iran, so the time to change Earth's energy is NOW!

Idéia sempre boa. Causa muito nobre.

A publicidade oficial

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A publicidade oficial

Boa matéria do Fernando Rodrigues, na "Folha" de hoje, sobre a publicidade oficial. Levantou vários ângulos, da distribuição de publicidade para a televisão até a audiência dos diversos canais.

O que se conclui do levantamento:

1. Todos os canais tiveram diminuição da propaganda do governo em 2006, menos a Record.

2. A publicidade na Bandeirantes caiu de R$ 38 mi em 2005 para R$ 31,4 mi em 2006 (até novembro). A da Rede 21 (onde está o Gamecorp) de R$ 3,4 mi para R$ 1,1 mi. O decréscimo nas duas frentes. Durante todo o ano a revista "Veja" apontou a Bandeirantes como beneficiária da publicidade oficial, depois que iniciou a parceria com a Gamecorp. Cadê a comprovação?

Rodrigues levanta uma boa gama de informações. Mas persiste o velho problema do escorpião, na hora das interpretações.

Por exemplo:

1. "Em 2003, a Record só ficou com 6% dos R$ 568,5 milhões de dinheiro público gasto com emissoras televisivas. Ao SBT coube 14,5%. Agora, a Record tem 12,8% e o SBT fica com 14,8%". A mesma matéria informa que de 2003 a 2006 a diferença de audiência entre as duas emissoras despencou de 11 pontos para apenas 4. De 2005 para 2006 caiu de 9 para 4 pontos.

2. Uma outra comparação é entre a participação de ambas na audiência e na publicidade. A Record teria ficado com 12,8% da publicidade federal contra 14,8% do SBT – contra uma audiência de 13 e 17 pontos respectivamente. Acontece que os dados levaram em conta a audiência total do dia, quando deveriam focar preferencialmente o horário nobre. O forte do SBT é a audiência infantil, enquanto a Record investiu no horário nobre. Seria estranho Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobrás anunciarem no Chaves ou em desenhos. Segundo informações que Rodrigues colheu junto à Record, de 2004 a 2006 a publicidade total na rede cresceu 147%. Aumentou para anunciantes privados e para anunciantes públicos.

3. Lembre-se que, quando o Canal 21 mudou a programação e abriu mão do jornalismo, perdeu o patrocínio da Caixa Econômica Federal, porque seu foco não era o público jovem.

Ou seja, à luz dos próprios dados levantados por Rodrigues, o aumento da publicidade na Record tem fundamento técnico. Que dados, então, sustentam o intertítulo da manchete principal de que o "aumento coincide com a reestruturação de programas e a saída de Boris Casoy"? É possível que tenha havido barganha. Mas cadê o fato que embasa a suspeita?

A nota oficial da Abril, divulgada na "Veja" desta semana, respondendo à Bandeirantes, informa que "assume plena responsabilidade por tudo o que publica e divulga". Não é a mesma coisa que "a Abril age com plena responsabilidade em tudo aquilo que publica e divulga".

enviada por Luis Nassif

do Blog do Nassif
http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2006_12.html#post_18722107


11 dezembro 2006

Os silêncios da imprensa (Dalmo Dallari)

Opinião: Os silêncios da imprensa

Dalmo Dallari

A imprensa deve ter o direito de ser livre, a fim de que possa manter o povo informado de todos os fatos de alguma relevância para as pessoas e a humanidade, que ocorrerem em qualquer parte do mundo. Essa liberdade inclui o direito de expressar-se livremente, mesmo que se trate de informação que contrarie as convicções e os interesses dos governantes, havendo geral reconhecimento de que a imprensa livre é um instrumento necessário para a existência do Estado Democrático.

Além disso, no mundo contemporâneo, são muitas as atividades, de maior ou menor importância para a sociedade, que dependem de informações corretas, atualizadas e, quanto possível, precisas, cabendo à imprensa atender também a essa necessidade social. Bastam esses pontos para se concluir que as tarefas da imprensa configuram um serviço público relevante. E por isso a Constituição proclama e garante a liberdade de imprensa como direito fundamental.

Como é evidente, esse direito e essa garantia não são outorgados como um favor ou privilégio aos proprietários dos veículos de comunicação de massa, mas têm sua justificativa precisamente no caráter de serviço público relevante, da imprensa. Mas dos mesmos fundamentos que justificam o direito e a garantia de liberdade decorre o dever de informar honestamente, com imparcialidade, sem distorções e também sem omissões maliciosas, sem a ocultação deliberada de informações que possam influir sobre a formação da opinião pública. Assim, a liberdade de imprensa enquadra-se na categoria de direito/dever, semelhante a outros de relevante interesse social, como o sufrágio.

Três omissões recentes, da grande imprensa brasileira, configurando a ocultação deliberada de fatos e de informações relevantes, deixam evidente que muitos órgãos da imprensa, justamente ciosos de sua liberdade a ponto de reagir à mais leve suspeita de ameaça, andam faltando ao seu dever de informar. Uma dessas faltas foi a ocultação de um pronunciamento de defensores de Direitos Humanos, solidarizando-se com policiais vítimas de criminosos durante as agitações promovidas pelo crime organizado em São Paulo, no mês de maio deste ano. O texto do manifesto, não tendo mais do que 20 linhas, foi enviado às redações dos grandes jornais de São Paulo, os mesmos que costumam acusar os defensores de Direitos Humanos de defenderem os criminosos e de não darem solidariedade às vítimas. Nenhuma referência a esse pronunciamento foi publicada, enquanto era dada publicidade a outras manifestações de solidariedade.

Outro desrespeito ao dever de informar foi a negativa de publicar um manifesto de intelectuais, solidarizando-se com o professor Emir Sader, que sofreu uma absurda condenação por ter criticado, num artigo de jornal, uma raivosa, antidemocrática e grosseira referência do senador Jorge Bornhausen, de Santa Catarina, aos petistas, dizendo ser preciso "acabar com essa raça", bem ao estilo dos nazistas quando se referiam aos judeus. Um juiz, doutor Muller, solidarizou-se com o senador Bornhausen, e invocou a honra ofendida dos catarinenses como um dos fundamentos da condenação, mais política do que jurídica. E a mesma imprensa que tem condenado o que denomina "o silêncio dos intelectuais", por estes não darem apoio às acusações e insinuações levianas contra membros do governo e dirigentes do PT, praticou "o silêncio da imprensa", dando ampla repercussão à decisão condenatória e não publicando qualquer informação sobre o manifesto dos intelectuais.

A terceira falta ao cumprimento do dever de informar é o "silêncio ensurdecedor" da imprensa sobre o conteúdo de um famigerado dossiê, que teria sido comprado por petistas pagando somas altíssimas. Alguns quilômetros de espaço nos jornais e muitas horas na televisão e no rádio foram dedicados ao dossiê e, no entanto, a mesma imprensa que penetrou na intimidade de acusados, que divulgou informações sobre conversas telefônicas e encontros sigilosos de envolvidos no caso, que penetrou em meandros de operações financeiras, nada informou, absolutamente nada, sobre o conteúdo do dossiê. Acrescente-se ainda que a imprensa, num prodígio de eficiência, conseguiu fotografar uma pilha de dólares, supostamente ligada ao caso, guardada num local altamente protegido, sob a vigilância de um solerte delegado da Polícia Federal. E até agora nenhuma palavra sobre o conteúdo do dossiê, não se sabendo se este realmente existe ou se a imprensa, por alguma razão, não quer revelar o seu conteúdo.

Os casos aqui referidos, e outros que poderiam ser acrescentados, deixam patente que a liberdade de imprensa, absolutamente necessária no Estado Democrático, não está sofrendo qualquer cerceamento no Brasil. É indispensável que a imprensa use corretamente essa liberdade e cumpra seu dever de informar, sem incorrer na grave falta da ocultação intencional de informações, que pode ser tão grave ou danosa quanto a divulgação de informações falsas.

09 de dezembro de 2006

Publicado no Jornal do Brasil - JB Online
http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2006/09/12/pais20060912013.html

29 novembro 2006

A Folha, cada vez mais com cara de vEja

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Dos fatos e das manchetes - 2

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http://www.luisnassif.com.br/

Manchete da “Folha” de hoje: “Publicidade oficial ajuda a bancar a TV do filho de Lula”. No primeiro parágrafo
da manchete a informações de que “a Gamecorp (...) divide com o Grupo Bandeirantes o faturamento obtido com
verbas federais em anúncios na Play TV”.

Diluídas nas páginas internas as seguintes informações:

1. Todas as informações foram fornecidas pela própria Bandeirantes, no processo que move contra a Editora
Abril. O juiz tirou o segredo de justiça, e o repórter pode consultar os autos e selecionar as informações a
serem destacadas na matéria.

2. Internamente, pela matéria fica-se sabendo que contrato da Gamecorp com a Bandeirante prevê a divisão em 50%
de toda a publicidade arrecadada. Não há uma cláusula especial para publicidade de órgãos públicos, conforme
sugere o texto destacado da primeira página. Internamente, artigo de Daniel Castro, o crítico da TV da "Folha",
informa que esse tipo de contrato é comum no mercado.

3. O infográfico mostra que a PlayTV deverá faturar R$ 5,2 milhões em 2006, e que o Banco do Brasil e a Caixa
estao entre os maiores anunciantes (provavelmente estão entre os maiores de qualquer emissora ou editora).
Quando se entram nos valores (perdidos no meio do texto), fica-se sabendo que, em 2006, as verbas federais para
o PlayTv foram de R$ 597 mil, ou 11% do faturamento previsto, e 68% inferiores à publicidade oficial em 2005,
ano em que a Gamecorp ainda não participava do faturamento do Canal 21.

4. Na defesa, feita pelo advogado Walter Ceneviva, fica claro que a PlayTV concorre diretamente com a MTV, da
Editora Abril, que iniciou a campanha contra a Gamecorp.

5. A matéria envereda, assim como a “Veja”, em ilações sobre anunciantes privados. A intenção da "Veja" é
intimidar esses anunciantes privados com o tom de escândalo conferido às matérias, sufocando a empresa por vias
indiretas. A "Folha" acaba embarcando nisso, embora não seja de seu feitio.

6. Ao contrário da “Veja”, historicamente a “Folha” fornece todas as informações. Só que, ao se juntar todas as
peças, não se encontra o todo anunciado na primeira página.

enviada por Luis Nassif
http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2006_11.html#post_18704265

10 novembro 2006

Carlos Dorneles: Seria bom se os barões da mídia fossem investigados

Carlos Dorneles: "Seria bom se os barões da mídia fossem investigados"

O jornalista Carlos Dorneles participou na noite de domingo (5) da quarta etapa do Ciclo de Debates Jornalismo
e Literatura, promovido pela RBS e pela Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, em parceria com a
Feira do Livro de Porto Alegre.
Com mediação do diretor de redação do jornal Zero Hora, Marcelo Rech, o debate contou com a participação do
também jornalista Caco Barcellos.

O tema programado para a noite era livro-reportagem, porém Dorneles desviou a discussão e fez duras críticas à
mídia nacional. A posição do repórter quanto à imprensa (não apenas a escrita, e sim a todos os meios de
comunicação) já podia ser reconhecida em seu livro Deus é inocente, a imprensa não.

A principal diferença é que na obra são abordados os meios de comunicação internacionais; durante a conversa em
Porto Alegre, as críticas ficaram centradas na imprensa brasileira.

“Hoje o jornalismo brasileiro não passa de um jornalismo burocrático que serve unicamente ao objetivo de
grandes empresas”, afirmou Carlos Dorneles no início de sua fala, logo após brincar dizendo que é conhecido por
gostar de falar mal da imprensa.

Também criticou as elites nacionais, que segundo ele nunca são envolvidas em escândalos. "Quando as
investigações de alguma reportagem chegam à elite, param imediatamente", disse.

O repórter acrescentou, diante de um público constituído basicamente por estudantes de jornalismo e
profissionais, que “qualquer movimento de organizações que busquem a democratização da comunicação é expurgada
pelos donos de veículos, que levantam a bandeira da liberdade de imprensa, mas na verdade querem preservar a
liberdade dos seus negócios”.

O recado deixado aos jornalistas e estudantes por Dorneles foi que “informação é produto, mercadoria e rende
dinheiro”.

Política

A cobertura das últimas eleições e a visível partidarização da mídia foi o estopim para a avaliação dos meios
de comunicação brasileiros.

“Imaginem se daqui a algumas décadas pegarem os jornais destas eleições para desvendar a sociedade em que
vivemos”, ironizou Dorneles.

Em um breve comentário a respeito da matéria produzida pela revista Carta Capital intitulada "Dossiê da Mídia"
(nº 416, de 25/10), o jornalista disse acreditar que “na verdade a matéria tenha mostrado apenas uma
‘poeirinha’ do que realmente aconteceu”.

E finalizou o assunto lembrando que os veículos adoram promover a abertura de sigilos telefônicos e bancários
de políticos: "Seria bom se os ‘barões da imprensa’ também tivessem suas vidas invadidas e investigadas".

As informações são do site Comunique-se
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=9663

09 novembro 2006

Sigilo da Folha

A Folha, hoje, na edição impresa e na versão online, está fazendo um grande estardalhaço sobre a quebra do
sigilo telefônico de uma linha sua.
A quebra do sigilo foi feita pelo Poder Judiciário.
Afinal, qual é o problema?
Os números de telefone aparecem na lista da quebra porque estavam registrados no telefone de um dos acusados da
compra do dossiê e seria impossível para a PF saber, antes da quebra, a quem pertenciam as linhas.
A quebra do sigilo ocorreu mediante o devido processo legal, no curso de uma investigação e autorizada pelo
Poder Judiciário. São circunstâncias autorizadas pela Constituição em que o sigilo de qualquer um pode ser
quebrado. Por que não poderia ser quebrado da Empresa Folha da Manhã ou de um de seus funcionários?
Ora essa!

06 novembro 2006

Vandenburgo

Vanderlei Luxemburgo é um técnico de futebol.
Foi também ex-jogador, o que pouca gente lembra, já que sua carreira foi medíocre.

Ontem, o time do Santos, comandado por Luxemburgo, perdeu, em casa, o clássico para o São Paulo. Perdeu na bola.
Na entrevista coletiva, após o jogo, o técnico perdedor ficou a todo tempo reclamando da arbitragem. De dois
lances em que a TV mostrou que o árbitro acertou. E depois ficou discursando sobre a tabela do campeonato
paulista do próximo ano que, segundo ele, beneficiaria o São Paulo.

Não me interessa discutir aqui lances polêmicos de futebol. O que interessa é a (lamentável) postura de
Luxemburgo.

Luxemburgo não sabe perder. Sempre que ele perde um clássico, tenta criar um factóide na entrevista.
Recentemente, perdeu outro clássico em que não havia nenhum lance polêmico. Então começou a entrevista dizendo
que o juiz o paquerou o jogo inteiro, esclarecendo que não tinha preconceito (claro) mas que não era gay. Para
desviar o foco do seu fracasso, o sujeito é capaz até de atingir a imagem dos outros, gratuitamente. Agora, foi
o papo da tabela do próximo Paulistão. Ele não sabe perder.
Isso não é postura de um esportista. Muito menos de alguém que almeja ser técnico da seleção.

Em tempo: Juca Kfouri, em seu blog, tocou na questão, com uma menção muito legal à fábula do escorpião e do sapo.

26 outubro 2006

O vício resiste

JANIO DE FREITAS

O VÍCIO RESISTE

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2610200606.htm

Nas circunstâncias atuais, a pretensão de impeachment de Lula disfarça mal a idéia de um golpe branco

A SIMULTANEIDADE de eleição presidencial e caso dossiê trouxe de volta uma idéia que muitos diziam para sempre
extinta na vida política brasileira. Não importa que esteja restrita a uma parte das eminências do PSDB, como a
um pequeno grupo pefelista, e aparentemente a um ou outro meio de comunicação. Nem faz diferença que se
apresente como um recurso de ordem judicial, amparado em preceitos legais. Nas circunstâncias em que se
apresenta, a pretensão de impeachment de Lula, mesmo no decorrer do previsto segundo mandato, disfarça mal a
idéia de um golpe branco.
É possível argumentar que as ações judiciais já entradas contra Lula nasceram das ocorrências do dossiê, e não
do propósito de afastá-lo da Presidência. Os contra-argumentos não são escassos. A começar de que a idéia de
impeachment emergiu, inclusive publicamente, antes de haver qualquer indício de comprometimento direto de Lula
ou mesmo indireto, do seu gabinete, na história ainda inconvincente do dossiê.
O que Tasso Jereissati, Jorge Bornhausen, Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin apresentam como
comprometimento são adulterações de certos fatos ou ficções de sua autoria. Como dizer, por exemplo, que se "o
chefe-de-gabinete da Presidência telefonou a Jorge Lorenzetti para saber de informações, Lula sabia de tudo"
(Tasso Jereissati, mas não só ele). Se ligou para saber do que se tratava, até prova em contrário, é porque
nenhum dos dois sabia. O comprometimento de Lula, ou de alguém que o comprometa de fato, é possível como tantas
outras possibilidades, inclusive a armação de oposicionistas, mas nada fundamentou tal hipótese, até agora.
Fatos por fatos, a armação até se aparenta menos aérea.
No Estado de Israel, o presidente está em processo criminal, sob a acusação de violentar uma mulher e
importunar, com propósito semelhante, outras nove ou dez. O primeiro-ministro Ehud Olmert, notabilizado pela
investida militar no Líbano, está sob a acusação de colaborar para atos de corrupção. Nos Estados Unidos, é
notório o envolvimento do vice-presidente Dick Chenney, acobertado por Bush, com empresas postas sob graves
acusações de desvios que chegariam a US$ 1 bi, no Iraque. Todos esses casos levam, nos seus países, a falar de
investigação (muito mais em Israel do que nos EUA) e, se couber, julgamentos judiciais. Em nenhum há ação
judicial com objetivo de impeachment.
Por que, no Brasil, antes mesmo que a investigação ao menos progrida um pouco, e se livre de seus aspectos
estranhos, políticos com grandes responsabilidades adotam, afoitos, a idéia e os passos iniciais para
impeachment? Por que, se a essência desse movimento não se confundir com a idéia de golpe branco?
"Lula não pode sair incólume dessa fraude", pregava anteontem o senador Tasso. "Não sair incólume" é uma
expressão que não permite duas interpretações. No caso de um candidato à reeleição, é que não possa chegar ao
segundo mandato. No caso de presidente eleito ou reeleito, a única maneira de "não sair incólume" é perder a
Presidência.
Pelo que se sabe do caso dossiê, a idéia de impeachment (ou de invalidação da candidatura) fica entre os
desatinos. Mas revela bastante. Ou confirma.

25 outubro 2006

Seguradora é condenada por fraudar cliente em SP

Além dos bandidos, temos as empresas bandidas agora. A notícia trata de uma condenação da Marítima Seguros, mas
há processos contra a Porto Seguro, o Itaú Seguros e a RealPrev. As empresas faziam um esquema de fraude para
não pagar o seguro de veículos.
As vítimas eram roubadas TRÊS vezes: pelo bandido na rua, pela seguradora quando se recusava a pagar o segura e
também pela seguradora, que cobra um preço extorsivo pelo seguro.
É um verdadeiro abuso o preço cobrado pelo seguro de um veículo. E ainda mais essa agora das seguradoras.

Seguradora é condenada por fraudar cliente em SP
Quarta, 25 de Outubro de 2006, 8h44
Fonte: INVERTIA http://br.invertia.com/
Portal Terra
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200610251144_INV_30029380

A Marítima Seguros foi condenada pela Justiça de São Paulo por ter se negado a pagar indenização a clientes que
tiveram carros roubados, sob a alegação de que os veículos tinham sido vendidos pelos proprietários. A empresa
é acusada de forjar documentos da venda dos veículos antes das queixas de roubo na delegacia. Assim, as
seguradoras não pagavam as indenizações e os clientes acabavam indevidamente acusados de tentar fraudar o seguro.

De acordo com a Folha de S.Paulo, a documentação era preparada em cartórios do Paraguai e da Bolívia sem que
houvesse a apresentação do carro ou do documento do proprietário. Conforme a investigação do Ministério
Público, policiais de fronteira, e também do 27º DP (Campo Belo), na zona sul, participavam do esquema.

A Marítima Seguros ainda pode recorrer da condenação. O Ministério Público também entrou com ações no ano
passado contra a Porto Seguro, o Itaú Seguros e a RealPrev, sob a acusação de terem praticado o mesmo esquema.
Esses processos ainda estão em andamento e não tiveram nenhuma sentença até agora.

24 outubro 2006

Os Fatos Ocultos - matéria completa

No post de 16 de outubro (Os Fatos Ocultos) a matéria da Carta Capital não estava na íntegra (apenas o texto disponibilizado na net). Como hoje já está nas bancas a edição seguinte, não vi prejuízo em disponibilizar aqui o scan da matéria, na íntegra.
Basta clicar nas páginas para ampliar.
Após ler a página, use o botão voltar/retornar do seu navegador.







Os fatos ocultos - continuação.




21 outubro 2006

Resposta a Ali Kamel: Tartufo trabalha na Globo?

Ao ler sua contestação à reportagem de capa da semana passada haverá quem suponha que não ouviu a gravação feita por um de seus subordinados

Por Redação CartaCapital

O texto assinado por Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, em anúncio pago pela emissora e veiculado na edição impressa, é, no mínimo, escorregadio ao tentar desqualificar as perguntas de CartaCapital que na semana passada se negou a responder. Kamel escorrega. E falseia.

Em comunicado remetido pela Central Globo de Pesquisa e Recursos Humanos, enviado a todos os usuários do e-mail do departamento de Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife, lê-se que “a revista enviara um questionário, cujo teor não deixava dúvidas de que estava mal-intencionada: as perguntas partiam sempre de premissas falsas e se referiam a episódios que nunca existiram”.

Tartufo, aquela definitiva personagem de Molière, não faria melhor na sua infinita hipocrisia. É invenção de CartaCapital que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas durante o governo FHC e que a Globo cuidou de não mencionar o fato? E é invenção nossa que até hoje o JN não destacou um repórter para investigar as relações de Barjas Negri com Abel Pereira? E é que pelo menos uma reportagem foi produzida sobre Abel Pereira, e editada, e até hoje não foi ao ar?

Por aí iam as perguntas de CartaCapital. Um dos princípios que norteiam o nosso trabalho é a fidelidade canina à verdade factual, a qual, dizia Hannah Arendt, quando omitida jamais será recuperada. Dizia também: “Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a relatar o que acontece, e que acontece porque é”. CartaCapital não esmorece na determinação de relatar o que acontece.

O texto de Ali Kamel alega isenção e objetividade, mas só ilude os desavisados, os mesmos que o JN busca alcançar. Como se sabe, o apresentador do jornal, William Bonner, iguala o telespectador-padrão a Homer Simpson, o simpático simplório do desenho animado. Esse desprezo pela platéia não é incomum no jornalismo brasileiro, muito pelo contrário. E é a razão primeira da decadência da nossa mídia.

Que ela sempre e sempre tenha prestado serviço ao poder é fato, mesmo porque é um dos rostos do próprio. Só para citar eventos mais ou menos recentes, ou nem tão remotos, basta recordar o golpe de 1964, o golpe dentro do golpe de 1968, a campanha das Diretas Já, as eleições de 1989. Mas se a questão moral sempre foi secundária, bastante secundária, para os patrões, vale sublinhar que já houve mais qualidade profissional.

Nunca houve tamanho desrespeito pelos leitores, ouvintes, espectadores. Desmoralização abissal e aviltamento progressivo da língua portuguesa, bela, forte, dúctil. A comparação entre o nosso jornalismo e o de muitos outros países é insustentável.

Claro que não é lícito condenar a Globo, bem como outros órgãos, e empresas, da mídia, por suas simpatias políticas. Insuportável é a tentativa de esconder a parcialidade por trás de uma neutralidade que os comportamentos traem a cada passo.

Jornalismo é informação e opinião. CartaCapital não hesita em manifestar as suas opiniões, neste momento, na escolha nítida de uma candidatura em lugar de outra, porque respeita seus leitores, a nação e o País. Quanto a Ali Kamel, experimentamos a impressão de que não ouviu a gravação da conversa dos repórteres com o delegado Bruno. Ainda que, a esta altura, ela seja do conhecimento até do mundo mineral.

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirSecao&id_secao=7

17 outubro 2006

Fui estudar.


Volto semana que vem.

16 outubro 2006

Os Fatos Ocultos

A mídia, em especial a Globo, omitiu informações cruciais na divulgação do dossiê e contribuiu para levar a disputa ao 2º turno

Por Raimundo Rodrigues Pereira (na Carta Capital)

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5457

1. Pode-se começar a contar a história do famoso dossiê que os petistas teriam tentado comprar para incriminar os candidatos do PSDB José Serra e Geraldo Alckmin pela sexta-feira 15 de setembro, diante do prédio da Polícia Federal, em São Paulo. É uma construção pesada, com cerca de dez pavimentos, de cor cinza-escuro e como que decorada com uma espécie de coluna falsa, um revestimento de ladrilho azul brilhante, que vai do pé ao alto do edifício, à direita da grande porta de entrada. Dentro do prédio estão presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos, ligados ao Partido dos Trabalhadores e com os quais foi encontrado cerca de 1,7 milhão de reais, em notas de real e dólar, para comprar o tal dossiê. Mas essa notícia é ainda praticamente desconhecida do grande público.

É por volta das 5 da tarde. A essa altura, mais ou menos à frente do prédio, que fica na rua Hugo Dantola, perto da Ponte do Piqueri, na Marginal do rio Tietê, na altura da Lapa de Baixo, estaciona uma perua da Rede Globo. Ela pára entre duas outras equipes de tevê: uma da propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin e outra da de José Serra.

Com o tempo vão chegando jornalistas de outras empresas: da CBN, da Folha, da TV Bandeirantes. E a presença das equipes de Serra e Alckmin provoca comentários. Que a Rede Globo fosse a primeira a chegar, tudo bem: ela tem uma enorme estrutura com esse objetivo. Mas como o pessoal do marketing político chegou antes? Cada uma das duas equipes tem meia dúzia de pessoas. A de Serra é chefiada por um homem e a de Alckmin, por uma mulher. As duas pertencem à GW, produtora de marketing político. Seus donos foram jornalistas: o G é de Luiz Gonzales, ex-TV Globo, e o W vem de Woile Guimarães, secretário de redação da famosa revista Realidade, do fim dos anos 1960. Entre os jornalistas, logo se sabe que foi Gonzales quem ligou para a Globo, avisando do que se passava na PF.

E quem avisou Gonzales? Foi alguém da Polícia Federal? Foi alguém do Ministério Público, de Cuiabá, de onde veio o pedido para a ação da PF? Uma fonte no Ministério da Justiça disse a CartaCapital que as equipes da GW chegaram à PF antes dos presos, que foram detidos no Hotel Ibis Congonhas por volta da 6 da manhã do dia 15 e demoraram a chegar à sede da polícia. Gente da equipe da GW diz que a empresa soube da história através de Cláudio Humberto, o ex-secretário de imprensa do ex-presidente Collor, que tem uma coluna de fofocas e escândalos na internet e que teria sido o primeiro a anunciar a prisão dos petistas.

Pode ser que sim, o que apenas leva à pergunta mais para a frente: quem avisou Cláudio Humberto? Mesmo sem ter a resposta, continuemos a pesquisar nessa mesma direção: a de procurar saber a quem interessava a divulgação da história do dossiê e como essa divulgação foi feita. Para isso, voltemos à região do prédio da PF duas semanas depois.

2. É 29 de setembro, vésperas da eleição presidencial, por volta das 10h30 da manhã. Sai do prédio da PF na Lapa de Baixo o delegado Edmilson Pereira Bruno,m 43 anos, que estava de plantão no dia 15 e foi o autor da prisão de Valdebran e Gedimar. Ele convida quatro jornalistas para uma conversa: Lílian Cristofoletti, da Folha de S.Paulo, Paulo Baraldi, de O Estado de S. Paulo, Tatiana Farah, do jornal O Globo, e André Guilherme, da rádio Jovem Pan. Bruno quer uma conversa reservada e propõe que ela seja feita a cerca de um quarteirão dali, na Bovinu's, uma churrascaria. Um dos jornalistas argumenta que ali "só tem policial". O grupo acaba conversando perto da Faculdade Rio Branco, que não se avista da frente da PF, mas é também ali por perto. Ficam na rua mesmo. O delegado não sabe, mas sua conversa está sendo gravada.

Bruno diz que quer passar para os jornalistas cópia das fotos do dinheiro apreendido com os petistas, que estavam sendo procuradas há muito, por muita gente. Leva um CD com as imagens; 23 fotos; e três CDs em branco para que eles copiem as imagens de modo a que cada um tenha uma cópia. Fala que eles devem dizer "alguém roubou e deu para vocês", para explicar o aparecimento das fotos. Diz que ele próprio vai dizer coisa parecida a seus chefes na PF, que os jornalista é que roubaram: "Doutor, me furtaram. Sabe como é que é, não dá para confiar em repórter". Recomenda que as fotos sejam editadas em computador com o programa Photoshop para tirar detalhes, como o nome da empresa na qual as cédulas foram fotografadas,a fim de despistar a origem do material.

Algumas pessoas têm a fita de áudio com a conversa do delegado Bruno com os quatro repórteres. Mais pessoas ainda a ouviram. Uma delas é o repórter Luiz Carlos Azenha, que tornou público vários de seus trechos no seu site pessoal na internet "Vi o mundo, o que nunca você pode ver na tevê" (http://viomundo.globo.com/). Azenha, que é repórter da TV Globo, não quis dar entrevista a Carta Capital. Pediu para que se procurasse a emissora. Para o que mais interessa ao desenrolar da nossa história, dos trechos da fita, deve-se destacar a preocupação de Bruno em fazer com que as fotos chegassem no dia ao Jornal Nacional. "Tem alguém da Globo aí?", pergunta ele. Um dos quatro responde: "Não é o Tralli? O Tralli está muito visado", Bruno diz, referindo-se a César Tralli e ao incidente, conhecido de muitos, de esse repórter da TV Globo ter podido acompanhar, praticamente disfarçado de Polícia Federal, a prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf.

Mas a preocupação principal de Bruno é a que ele reitera nesse trecho: "Tem de sair hoje à noite na TV. Tem de sair no Jornal Nacional".

3. As fotos são divulgadas, como veremos no capítulo seguinte, com imenso destaque, no dia 29, vésperas das eleições, repita-se, no JN. Mas não apenas no JN. Veja-se a Folha de S.Paulo, por exemplo, Lá também a divulgação foi, pelo menos na opinião de alguns, espetacular: "Que primeira página mais linda, a de 30/9. É por isso que eu não consigo me separar da Folha", escreveu o leitor Euclides Araújo, no dia seguinte. "A glosa, a irreverência, a fina ironia falaram mais alto, mostrando aquela montanha de dinheiro em cima e, embaixo, Lula, sendo abraçado por uma mão morena e cobrindo o rosto, como se fosse um meliante, conduzido ao distrito, tentando esconder a identidade. O que eles querem, o Pravda ou o Granma? Valeu, Folha!"

A Folha publicou, com grande destaque na primeira página, a foto na qual o dinheiro está empilhado de forma que as notas apareçam com a frente voltada para cima, que é a que mais dá a impressão da "montanha de dinheiro" citada pelo admirador do jornal. E não divulgou que as fotos lhe tinham sido passadas por um policial visivelmente emprenhado em fazer com que elas tivessem um uso político claro, de interferir no pleito de 1º de outubro.

A Folha também tinha a fita de áudio, que foi levada por sua repórter. A editora-executiva do jornal, Eleonora de Lucena, não quis responder por que omitiu as informações dessa fita, a nosso ver tão relevantes. Alguns dos quatro repórteres que receberam as fotos do delegado Bruno, ouvidos para esta matéria, disseram em defesa da tese de que o áudio não deveria ser divulgado, com o argumento de que o jornalista deve preservar o sigilo da fonte, com o que concordamos. Mas perguntamos a Eleonora: por que ela não deu a informação de que se tratava de uma intervenção política no processo eleitoral, publicando os trechos da fita de áudio, que tornam isso explícito, mas sem citar o nome da fonte?

O mais curioso, para dizer o mínimo, é que a Folha publica, junto com as fotos do dinheiro, uma matéria ("Imagens foram passadas em sigilo à imprensa") na qual conta o que o delegado Bruno disse depois, na tarde do mesmo dia 29, ao conjunto de jornalistas, na frente da PF. No texto, assinado pela repórter do jornal que recebeu as fotos de Bruno pela manhã, se diz: "O delegado Bruno disse, ontem, em coletiva à imprensa, q2ue o CD com as fotos havia sido furtado de sua sala, na PF - e que ele estava sendo injustamente acusado de ter repassado o material aos jornalistas". Pergunta-se: qual é o sentido de publicar uma informação que a jornalista sabia que é evidentemente mentirosa e, no caso, ainda ajudava o policial a tentar enganar a própria imprensa?

O Estado de S. Paulo do dia 30 publica a mesma foto, das notas em posição de sentido. E com um texto, assinado por Fausto Macedo e Paulo Baraldi, ainda mais incrível, também para dizer o mínimo. O texto é praticamente uma diatribe contra o PT e em defesa de José Serra. Diz que a publicação das fotos é a abertura "de um segredo que o governo Lula mantinha a sete chaves". Diz que o dinheiro vinha de quem "pretendia jogar Serra na lama dos sanguessugas". É também uma espécie de defesa do delgado Bruno, em favor do qual são ditas algumas mentiras. O texto diz que as fotos foram feitas por "um policial da Delegacia de Crimes Financeiros (Delefin)", na sexta-feira dia 15 de setembro. E que o delegado Bruno comandou uma perícia nas notas, a serviço da Polícia Federal, na sala da Protege AS, Proteção de Transporte de Valores, em São Paulo. De fato, como se saberia no mesmo dia 30 em que o texto de Macedo e Baraldi sai publicado, as fotos foram feitas pelo próprio delegado Bruno, depois de enganar os peritos que analisavam as notas, dizendo-se autorizado pelo comando da PF. Pela infração, o delegado está sendo investigado por seus pares.

4. Tanto o Estado como a Folha dividem a primeira página do dia 30 entre a notícia das fotos do dinheiro e uma outra informação espetacular: a da queda do Boeing de passageiros da Gol com 154 pessoas, depois de um choque com o Legacy da Embraer, o jatinho executivo a serviço de empresários americanos. No dia 29, no Jornal Nacional, da Globo, no entanto, não há espaço para mais nada: a tragédia do avião da Gol não entra; o noticiário eleitoral, com destaque para a foto do dinheiro dos petistas, é praticamente o único assunto.

É uma omissão incrível. O Boeing partiu de Manaus às 15h35, hora de Brasília. Deveria ter chegado a Brasília às 18h12. Quando o JN começou, a notícia do desastre já corria o mundo. No site Terra, por exemplo, às 20h10 uma extensa matéria já noticiava que o avião da Gol havia desaparecido nas imediações de São Félix do Araguaia, na floresta amazônica; e a causa apontada era o choque com o avião da Embraer.

Qual a razão da omissão do JN? A emissora levou um furo, como se diz no jargão jornalístico, ou decidiu concentrar seus esforços no que lhe pareceu mais importante?

Qualquer que seja o motivo, o certo é que a questão da divulgação das fotos mobilizou a cúpula do jornalismo da tevê dos Marinho. Como vimos, Bruno fora informado pelos jornalistas que Bocardi, da TV Globo, estava entre os jornalistas diante da PF no dia 29. Bocardi é Rodrigo Bocardi, repórter da TV Globo, que atendeu Carta Capital com muita má vontade. Disse que a matéria acabara sendo apresentada por César Tralli e não por ele; e não quis dar mais informações. De alguma forma, no entanto, tanto a fita de áudio como a conversa de Bruno com os jornalistas quanto ao CD com imagens do dinheiro foram passados à chefia de jornalismo do JN em São Paulo e de lá foram levadas a Ali Kamel, no Rio.

Kamel é uma espécie de guardião da doutrina da fé, o Raztinger da Globo, como dizem ironicamente pessoas da organização dos Marinho, que criticam o excesso de zelo deste que é um editor em última instância de todo o noticiário político da emissora carioca. A crítica lembra o papel do cardeal Joseph Raztinger, atualmente papa Bento XVI, no papado de João Paulo II.

Compreende-se por que a decisão sobre o que fazer com o áudio e com as fotos tivesse de ser tomada pelas mais altas autoridades da emissora. Se divulgasse o conteúdo exato das duas informações, a Globo estaria mostrando que o delegado queria usar a emissora para os claros fins políticos que manifesta e que a emissora tinha feito a sua parte nesse projeto. A saída de Kamel - aparentemente, segundo relato de terceiros, ouvidos por Carta Capital, já que ele mesmo não quis se manifestar - foi a de omitir qualquer referência à existência do áudio: "Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos", teria dito Kamel. A informação complicava a Globo. A informação sumiu.

http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5457
*Confira a íntegra da reportagem na edição impressa

15 outubro 2006

O 1º golpe de Estado já houve. E o 2º?

Paulo Henrique Amorim

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html

Um golpe de Estado levou a eleição para o segundo turno.

É o que demonstra de forma irrefutável a reportagem de capa da revista Carta Capital que está nas bancas (“A trama que levou ao segundo turno”), de Raimundo Rodrigues Pereira. E merecia um sub-titulo: “A radiografia da imprensa brasileira”.

Fica ali demonstrado:

1) As equipes de campanha de Alckmin e de Serra chegaram ao prédio da Polícia Federal, em São Paulo, antes dos presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos;

2) O delegado Edmilson Bruno tirou fotos do dinheiro de forma ilegal e a distribuiu a jornalistas da Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, do jornal O Globo e da rádio Jovem Pan;

3) O delegado Bruno contou com a cumplicidade dos jornalistas para fazer de conta que as fotos tinham sido roubadas dele;

4) O delegado Bruno procurou um repórter do Jornal Nacional para entregar as fotos: “Tem de sair à noite na tevê., Tem de sair no Jornal Nacional”;

5) Toda a conversa do delegado com os jornalistas foi gravada;

6) No dia 29, dois dias antes da eleição, dia em que caiu o avião da Gol e morreram 154 pessoas, o Jornal Nacional omitiu a informação e se dedicou à cobertura da foto do dinheiro;

7) Ali Kamel, “uma espécie de guardião da doutrina da ” da Globo, segundo a reportagem, recebeu a fita de audio e disse: “Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos não a temos”, diz Kamel, segundo a reportagem

8) A Globo omitiu a informação sobre a origem da questão: 70% das 891 ambulancias comercializadas pelos Vedoin foram compradas por José Serra e seu homem de confiança, e sucessor no Ministério da Saúde, Barjas Negri.

9) A Globo jamais exibiu a foto ou o vídeo em que aparece Jose Serra, em Cuiabá, numa cerimônia de entrega das ambulâncias com a fina flor dos sanguessugas;

10) A imprensa omitiu a informação de que o procurador da República Mario Lucio Avelar é o mesmo do “caso Lunus”, que detonou a candidatura Roseana Sarney em 2002, para beneficiar José Serra. ( A Justiça, depois, absolveu Roseana de qualquer crime eleitoral. Mas a campanha tinha morrido.)

11) Que o procurador é o mesmo que mandou prender um diretor do Ibama que depois foi solto e ele, o procurador, admitiu que não deveria ter mandado prender;

12) Que o procurador Avelar mandou prender os suspeitos do caso do dossiê em plena vigência da lei eleitoral, que deixa prender em flagrante de delito.

13) Que o Procurador Avelar declarou: “Veja bem, estamos falando de um partido político (o PT) que tem o comando do país. Não tem mais nada. o País. Pode sair de onde o dinheiro ?”

14) A reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira conclui: “Os petistas foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido.”

Na mesma edição da revista Carta Capital, ao analisar uma pesquisa da Vox Populi, que Lula tem 55%, contra 45% de Alckmin, Mauricio Dias diz: “ ... dois fatos tiraram Lula do curso da vitória (no primeiro turno). O escândalo provocado por petistas envolvidos na compra do dossiê da familia Vedoin ... e secundariamente o debate promovido pela TV Globo ao qual o presidente não compareceu.”

Quer dizer: o golpe funcionou.

Mino Carta, o diretor de redação da Carta Capital, diz em seu blog, aqui no IG (http://blogdomino.blig.ig.com.br/), que houve uma reedição do golpe de 89, dado com a mão de gato da Globo, para beneficiar Collor contra Lula. "A trama atual tem sabor igual, é mais sutíl, porém. Mais velhaca", diz Mino.

Permito-me acrescentar outro exemplo.

Em 1982, no Rio, quase tomaram a eleição para Governador de Leonel Brizola. Os militares, o SNI, e a Policia Federal (como o delegado Bruno, agora, em 2006) escolheram uma empresa de computador para tirar votos de Brizola e dar ao candidato dos militares, Wellington Moreira Franco. O golpe era quase perfeito, porque contava também com a cumplicidade de parte de Justiça Eleitoral e, com quem mais? Quem mais?

O golpe contava com as Organizações Globo (tevê, rádio e jornal, como agora) que coonestaram o resultado fraudulento e preparam a opinião pública para a fraude gigantesca.

Que não aconteceu, porque Brizola “ganhou a eleição duas vezes: na lei e na marra”, como, modestamente, escrevi no livro “Plim-Plim – a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral”, editora Conrad, em companhia da jornalista Maria Helena Passos.

Está tudo pronto para o segundo golpe.

O Procurador Avelar está .

Quantos outros delegados Bruno há na Policia Federal (de São Paulo, de São Paulo !).

A urna eletrônica no Brasil é um convite à fraude. Depende da vontade do programador. Não tem a contra-prova física do voto do eleitor. Brizola aprendeu a amarga lição de 82 e passou resto da vida a se perguntar: “Cadê o papelzinho ?”, que permite a recontagem do voto ?

E se for tudo parar na Justiça Eleitoral? O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello deixou luminosamente claro, nas centenas de entrevistas semanais que concede a quem bater à sua porta, que é favor da candidatura Alckmin.

E o segundo golpe? Está a caminho. As peruas da GW saíram da garagem.

Paulo Henrique Amorim, em seu site Conversa Afiada

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html

1989 + O fato e a foto do dinheiro (Mino Carta)

Duas do blog do Mino Carta.
(Se você não sabe quem é este SENHOR JORNALISTA, sugiro ir atrás.)


1989

A reportagem de CartaCapital, nas bancas paulistanas desde o meio-dia de hoje, traz imediatamente à memória a lembrança dos lances finais da campanha do segundo turno de 1989. Primeiro, veio à tona a história da menina Lurian, que a mídia contou qual fosse pecado mortal a aventura amorosa de um viúvo. Depois aconteceu a manipulação do debate de encerramento, comandada pessoalmente por Roberto Marinho. Os donos do poder estavam então dispostos a agarrar em fio desencapado, no caso o outsider Fernando Collor. A trama atual tem sabor igual, é mais sutíl, porém. Mais velhaca.
enviada por mino 13/10/2006 18:26




O fato e a foto do dinheiro

Todo o esforço da mídia para evitar que os eleitores soubessem como surgiu a foto do dinheiro, destinado ao pagamento do celebérrimo dossiê, malogra redondamente nesta sexta. Graças à reportagem de capa de CartaCapital, que está nas bancas de São Paulo desde o meio-dia. O enredo começa na sexta, 15 de setembro, quando foram presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos. Os jornalistas chegam ao prédio da PF e encontram no local as equipes de Geraldo Alckmin e José Serra. As quais contam, fácil deduzir, com solertes informantes dentro da polícia. Mas o herói do entrecho surge na ribalta catorze dias depois, véspera da eleição. É o delegado Edmilson Pereira Bruno. Carrega as imagens do dinheiro, que ele mesmo fotografou com sua máquina. Pacotes de notas sabiamente empilhados, com esmero de artistas do still. Diz, peremptório: “Tem de sair no Jornal Nacional”. Cercam-no quatro repórteres. Da Folha, do Estado, de O Globo e da Jovem Pan. Gravam a conversa. Edmilson recomenda: levem as fotos mas esqueçam o que eu disse, vou enganar os meus superiores, contarei que fui roubado por vocês, sabem como são os jornalistas... Os pedigueiros da informação topam e entregam as gravações aos chefes, que as enfurnam nas gavetas mais próximas. Caluda! O pedido do delegado é atendido pela Globo, no ambicionado JN. As fotos explodem ao vídeo enquanto uma voz soturna, fora do campo, lhes ilustra a serventia. Sabemos que, em grande parte, devemos a eles o segundo turno. A Globo chega ao requinte de antecipar a exibição à noticia do desastre do avião da Gol, já no ar em outras emissoras.
enviada por mino 13/10/2006 14:47