Ufa! Acabou! Está tudo sob controle! Sob controle do crime organizado. O cara-de-pau do secretário de segurança foi hoje à tv para falar: viu, era tudo exagero, tudo boato.
Olha, realmente, ontem foi um dia de pânico e histeria. Mas por parte do governo inclusive.
Ninguém do governo deu as caras para passar alguma informação. E aí os boatos proliferaram mesmo.
Mas o pânico não era infundado. Todas as bases móveis, que estamos acostumados a ver, sumiram. Não havia policiais nos cruzamentos. Não havia policiamento, enfim. A polícia militar estava recolhida, só as tropas de elite circulavam em comboios. A sensação era de ausência do Poder Público.
E aí, de repente, tudo parece calmo. Como isso aconteceu? Na Folha de São Paulo, hoje:
Ordem foi dada a membros da facção após dois dias de conversas com representantes do governo estadual, que nega negociação
Cúpula do PCC ordena fim dos ataques
A cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) deu ordem ontem para cessar os atentados e rebeliões em São Paulo, após dois dias de negociações com representantes do governo do Estado.
A Folha apurou que, por telefone celular, líderes da facção criminosa determinaram a presos e membros do PCC do lado de fora das cadeias que interrompessem a onda de violência.
A trégua foi mais rápida nas cadeias. No começo da noite, não havia mais nenhuma rebelião em andamento no Estado. O dia começou com 55 presídios amotinados -foram 82 unidades rebeladas (73 presídios e nove cadeias públicas) desde o início das ações. A maior parte das rebeliões terminou quase simultaneamente, a partir das 16h.
Segundo o que a Folha apurou, o preso Orlando Mota Júnior, 34, o Macarrão, foi um dos principais interlocutores do governo. Ele e outros líderes do PCC deram a ordem de cessar os atentados.
Nas conversas com representantes da Secretaria da Administração Penitenciária, a facção condicionou o fim dos ataques a benefícios a presos transferidos para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP) e à não entrada da Tropa de Choque da PM nos presídios rebelados. Na quinta-feira, 765 detentos -todos membros do PCC- foram levados para a penitenciária.
Na pauta estava o banho de sol. Os presos estão trancafiados, por medida de segurança, desde a transferência. O PCC pediu que os presos levados a Presidente Venceslau não sejam submetidos ao regime de observação.
Nesse sistema, usado para quem chega a uma nova penitenciária, os detentos ficam trancados e não podem receber visitas ou advogados por um período de até 30 dias. Eles alegam que são "piolhos" (presos veteranos) e não cometeram infrações no sistema para justificar a punição.
Houve outras reivindicações, mais ousadas. Entre elas, segundo agentes penitenciários, está o pedido de visita íntima e de televisores no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). O sistema mais rígido proíbe esses dois benefícios.
Marcola e outros quatro líderes da facção foram levados provisoriamente para o RDD em Presidente Bernardes (589 km de SP) no sábado. Segundo agentes penitenciários, homens da SAP estiveram no domingo em Presidente Bernardes para conversar com o líder máximo do PCC.
Sem negociação
O governo nega a negociação com a organização. "Não se negocia com bandido", afirmou ontem o diretor do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), Godofredo Bittencourt. Mas ele afirma que o plano de isolar os líderes do PCC em Presidente Venceslau surgiu quando os presos passaram a fazer pedidos fora da lei.
"Eles [os líderes do PCC] fizeram reivindicações junto à Secretaria da Administração Penitenciária que não eram permitidas. Chegou a um ponto que o secretário [Nagashi Furukawa] achou que eles estavam pedindo aquilo que não se poderia permitir e poderia acontecer alguma coisa", afirmou o diretor do Deic.
Bittencourt disse que a facilidade do acesso dos presos a celulares dificulta o trabalho da polícia. "São contatos feitos por telefone rapidamente que não há condições, de quem quer que seja, de saber o que vai acontecer."
Em março, a Folha revelou uma foto em que Marcola aparece com um celular na mão. A imagem foi registrada por outro telefone, com câmera digital, que pertencia a outro preso. O aparelho com a imagem arquivada na memória foi apreendido em janeiro.
A CPI da Câmara dos Deputados que investiga o tráfico de armas já aprovou requerimento para ouvir Marcola e seu irmão Juvenal Herbas Camacho Júnior. O depoimento dos dois pode ocorrer na próxima semana. Os deputados também decidiram exigir do governo paulista a permanência de Marcola no RDD.
GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE
Colaborou a Sucursal da Brasília
São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006
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