03 outubro 2006

Mídia, governo e hipocrisia

Mais um texto expetacular de Luís Nassif.
http://www.luisnassif.com.br/

Mídia, governo e hipocrisia

Para os que consideram que a luta da mídia contra Lula é ideológica, remeto à coluna que escrevi em 29 de julho
de 2000, sobre a campanha contra Fernando Henrique Cardoso (clique aqui).

É um conjunto de manchetes e matérias sobre o caso Eduardo Jorge. O movimento de manada é o mesmo. A intenção
quase explícita é a de derrubar o presidente.

Fica claro que há uma disfunção institucional na mídia, uma gana de derrubar presidentes, herança de Watergate
e da campanha do impeachment de Collor.

No dia em que se escrever a verdadeira história da cobertura do impeachment, se verá uma sucessão infindável de
manipulações grosseiras, roubos de matérias de repórteres por chefes, uso indiscriminado de dossiês, mentiras
das mais inverossímeis. Tudo isso, independentemente das inúmeras falhas e culpas de Collor –as maiores
jogadas, aliás, não foram levantadas.

Só que a campanha consagrou jornalistas e elevou a grande imprensa à condição de maior poder nacional. Em
meados dos anos 90, jornais e revistas de opinião conquistaram os maiores índices de tiragem da história.

De lá para cá, a curva se inverteu por inúmeras razões. Algumas são estruturais, ligadas à entrada das novas
mídias, não apenas a Internet, como o avanço da TV a cabo e do rádio – que ganhou status de formador de
opinião. Mas outras razões foram decorrência da perda de foco do jornalismo de opinião, que de tanto buscar o
espetáculo abriu mão de algumas qualidades intrínsecas do produto: credibilidade, rigor na apuração. Show por
show, a TV, a Internet e os jornais populares levaram.

De lá para cá, a imprensa escrita não se inovou. Sem inovações e criatividade, os únicos momentos de destaque
são nas grandes catarses nacionais, em casos como o da Suzane, Wilma, Lalau. Mais ainda, quando os escândalos
permitem atingir o poder e tentar recuperar a glória perdida dos tempos do impeachment de Collor.

No segundo governo, Fernando Henrique não caiu devido apenas à sua habilidade política. A reconciliação da
grande imprensa com ele se deu após sua saída, mas porque ele era ex, e o alvo era o próximo.

Com esse modelo político em vigor, qualquer presidente estará exposto aos humores da imprensa ao primeiro sinal
de vulnerabilidade. Pela relevante razão que o país é ingovernável se o governante não “sujar as mãos”, como
colocou o ator Paulo Betti, cometendo esse crime inominável de expor a hipocrisia em público.

É certo que a lambança promovida pelo PT foi ampla, típica de quem chega pela primeira vez ao poder, bem
diferente da tolerância discreta do PSDB. Mas é certo, também, que a maior parte desses operadores de Estado
começou a atuar muito antes. E foram moedas de troca para assegurar a governabilidade. A grande habilidade
política de FHC consistiu em entregar ministérios aos aliados, e fechar os olhos aos operadores. O grande erro
de Collor e Lula foi tentar monopolizar os operadores e dar o troco aos aliados -- como, aliás, muito bem
colocou o ex-deputado Roberto Jefferson.

Sem reforma política, qualquer governante estará permanentemente exposto aos humores seletivos da mídia. Ou ao
exercício permanente da hipocrisia. Aliás, a hipocrisia é elemento essencial de governabilidade.

Luís Nassif
http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2006_09.html#post_18640021

# end of post

Nenhum comentário: